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sexta-feira, 8 de abril de 2022

Os motivos que levaram inflação de março a ser a maior em quase 3 décadas e como isso afeta o consumidor

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O índice oficial de inflação do Brasil subiu para 1,62% em março, de acordo com relatório do IBGE, pior índice para o mês em 28 anos.
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TOPO
Por BBC

Postado em 08 de abril de 2022 às 22h20m

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Copom elevou Selic em 1 ponto, para 11,75% ao ano, maior percentual desde 2017 — Foto: BBC
Copom elevou Selic em 1 ponto, para 11,75% ao ano, maior percentual desde 2017 — Foto: BBC

O índice oficial de inflação do Brasil subiu para 1,62% em março, de acordo com relatório do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgado nesta sexta-feira (8/4).

É o maior avanço do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) para o mês em 28 anos - a última alta semelhante aconteceu em 1994, antes do real ser implementado como a moeda brasileira.

De acordo com Fábio Gallo, professor de finanças da FGV EAESP, até o início do ano, a expectativa era de uma inflação menos aguda do que a apresentada hoje.

"Mas demorou pouco para que os preços começassem a subir. Desde fevereiro, as taxas já estavam bem acima do esperado."

Dados divulgados pelo IBGE mostram que, em março, os principais impactos vieram dos transportes (3,02%) e da alimentação e bebidas (2,42%). Os dois grupos, juntos, contribuíram com cerca de 72% do índice do mês. No caso dos transportes, a alta foi ocasionada principalmente pelo aumento nos preços dos combustíveis (6,70%), com destaque para gasolina (6,95%).

Os fatores responsáveis pela alta da inflação

O Brasil tem enfrentado uma inflação persistente desde 2021, um cenário que sofreu uma piora ainda mais importante com o início da guerra na Ucrânia.

Conheça abaixo, de acordo com os especialistas entrevistados pela BBC News Brasil, os principais produtos afetados e fatores responsáveis pela inflação tão alta:

Aumento do preço do barril de petróleo deixou o combustível mais caro

A guerra da Rússia contra a Ucrânia tem feito o preço do barril do petróleo subir e ficar bastante volátil. Isso porque a Rússia é um dos maiores produtores de petróleo do mundo, com capacidade de produção de mais de 10 milhões de barris por dia.

O transporte de cargas no Brasil é principalmente por meio rodoviário, o que faz com que toda a cadeia produtiva seja afetada pelo aumento do combustível.

"Nossa economia é muito indexada, o que faz com a alta da inflação comece a 'contaminar' todas as áreas", analisa Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter.

Alta no setor de alimentação

Algumas safras, plantações de produtos importantes para a exportação brasileira e também para o consumo interno do país, foram perdidas por períodos prolongados de seca e, em outros lugares, excesso de chuvas.

Além disso, houve a demanda por alguns itens relativos à alimentos que vêm do exterior, como por exemplo os agrotóxicos usados nas plantações, que tem seu preço em dólar. "São fatores conjuntos que já vinham aguçando a inflação desde 2021", diz Gallo.

"A guerra também influenciou na questão da alimentação, já que Rússia e Ucrânia são importantes produtores e exportadores de trigo. Isso acabou, inclusive, afetando o preço de outros grãos e cereais, como milho e soja", aponta Vitória.

Outro fator é a alta do combustível, fazendo com que a logística de transporte também contribua para o aumento do preço dos alimentos.

Entre os alimentos que sofreram alta de preço estão: tomate, cujos preços subiram 27,22% em março, a cenoura, que avançou 31,47% e já acumula alta de 166,17% em 12 meses, leite longa vida (9,34%), óleo de soja (8,99%), frutas (6,39%) e pão francês (2,97%).

Energia elétrica tornando as contas mais caras

O Brasil conta com três tipos de produção de energia principais: hidrelétrica, eólica e termelétrica. "A hidrelétrica é a produção mais barata. Ela é gerada pela força da água. Quando as chuvas diminuem e os reservatórios ficam muito baixos,as turbinas têm menos força e menos energia é gerada.

Para compensar, o governo aciona usinas termelétricas - queima de carvão, que são mais caras e também dependem de derivados de petróleo. É isso que faz com que nossas contas fiquem mais caras", Juliana Inhasz, economista e professora do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), em São Paulo.

Há, no entanto, um alívio em vista: o fim da bandeira de escassez hídrica, deixará a conta de luz mais barata a partir do próximo dia 16.

Quais são as expectativas para o futuro?

A expectativa dos especialistas ouvidos pela BBC é que a inflação continue alta nos próximos meses, ainda que não se eleve muito em relação ao que vimos neste mês de março.

"A inflação está alta já há alguns meses, apesar do Banco Central fazer um significativo 'aperto monetário', com as taxas de juros subindo, ainda não vemos a inflação ceder. É muito negativo para os consumidores, tira o poder de compra e deve impactar o consumo, que provavelmente ficará mais fraco para o resto do ano", diz Vitória.

Por outro lado, a especialista cita a valorização do real frente ao dólar como um ponto positivo. "Com os juros altos, acabamos atraindo investidores estrangeiro, e muitas pessoas compram ativos commodities para se proteger contra a inflação." No entanto, o alívio na inflação deve se dar de forma lenta e sutil.

Há também, como lembra a economista Juliana Inhasz, fatores internos por conta das eleições, que podem atrair ou afugentar investidores dependendo de como o cenário político ficará nos próximos meses. "Por fim, o cessar da guerra na Ucrânia, que não sabemos quando se dará, também deve influenciar em como a economia brasileira reagirá nos próximos meses", afirma a professora do Insper.

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