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Ministro da Economia questionou esta semana qual seria o problema de a "energia ficar um pouco mais cara porque choveu menos". Alta impacta direta e indiretamente o bolso dos brasileiros, e prejudica retomada econômica.--------+++-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------+++---------
Por Daniel Silveira, Darlan Alvarenga e Luiz Gerbelli, G1 — Rio de Janeiro e São Paulo
Postado em 29 de agosto de 2021 às 11h00m
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O ministro da Economia, Paulo Guedes, questionou nesta semana qual seria o problema de a "energia ficar um pouco mais cara porque choveu menos". Na fala, que gerou críticas, ele afirmou ainda que "não adianta ficar chorando", pois a população terá de arcar com o aumento do custo da produção de energia diante da seca que atinge o país (assista no vídeo abaixo).
Guedes: 'Qual é o problema agora que a energia vai ficar um pouco mais cara porque choveu menos?'
Quem paga conta de luz todos os meses, no entanto, conhece alguns dos problemas dessa alta: a energia consome um fatia cada vez maior dos orçamentos domésticos, pressiona outros preços e aperta as contas das famílias. E não deve parar por aí: o governo já sinalizou que as contas de luz devem ficar ainda caras até o final do ano.
O impacto no bolso dos brasileiros é consequência, especialmente da crise hídrica pela qual o Brasil atravessa. O preço da energia elétrica já subiu quase três vezes mais que a inflação ao longo dos primeiros oito meses de 2021, refletindo em aumento disseminado nos preços de diversos produtos e serviços.
Abaixo você confere porque a energia elétrica tem aumentado tanto, qual a relação dela com a inflação, o impacto sobre o bolso dos brasileiros, em especial os mais pobres, e quais as perspectivas de aumento nas contas de luz para o próximos meses.
Energia sobe três vezes mais que a inflação
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que é uma prévia da inflação oficial do país, avançou 0,89% na passagem de julho para agosto, enquanto a alta da energia elétrica foi de 5%.
No ano, enquanto o IPCA-15 acumulou alta de 5,81%, a alta acumulada nas contas de luz chegou a 16,07%, quase o triplo do índice geral. Já em 12 meses, a energia elétrica acumulou alta de 20,86%, mais que o dobro da inflação acumulada no período, que foi de 9,3%.
Alta acumulada no ano nos preços da energia elétrica é quase o triplo da inflação oficial do país — Foto: Economia/G1
O aumento de 5% na energia elétrica em agosto ainda reflete o reajuste de 52% aplicado em julho sobre a bandeira tarifária vermelha patamar 2, que passou de R$ 6,24 para R$ 9,49 a cada 100 kWh consumidos.
A bandeira tarifária é um sistema criado em 2015 que aplica uma cobrança adicional nas contas de luz sempre que aumenta o custo da produção da energia no país. Ela ficou suspensa em 2020 ao longo de seis meses, mas foi retomada em dezembro e desde então tem encarecido, cada vez mais a conta de luz dos brasileiros.
Entenda as bandeiras tarifárias — Foto: Arte G1
De fevereiro a maio vigorou a bandeira amarela e, em junho, passou a vigorar a bandeira vermelha.
O que explica a alta no preço da energia elétrica?
O expressivo aumento das contas de luz é consequência da crise hídrica que afeta os reservatórios das usinas hidrelétricas. O Brasil enfrenta a pior estiagem dos últimos 91 anos, segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
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Os reservatórios do Sudeste e do Centro-Oeste, que respondem por 70% da geração de energia do país, estão com 23% da capacidade de armazenamento, nível menor que o registrado em agosto de 2001, quando o país enfrentou racionamento de energia. Em novembro, quando começa o período chuvoso, o ONS prevê que os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste vão chegar a 10% da capacidade.
Para preservar água nos reservatórios das hidrelétricas, a primeira alternativa do governo é acionar as usinas termelétricas, que são mais caras e mais poluentes.
Diante da atual crise, medidas excepcionais estão sendo adotadas no país, em parceria com as agências reguladoras e com o ONS, tais como o acionamento de usinas termelétricas adicionais e o aumento da importação de energia da Argentina e Uruguai, que aumentam ainda mais os custos de produção da energia no país.
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Segundo o coordenador de Índice de Preços ao Consumidor da FGV-Ibre, André Braz, a energia elétrica, juntamente com a gasolina, tende a ser a grande vilã da inflação em 2021. Isso porque ela é o segundo item de maior peso sobre a inflação, atrás apenas do combustível mais usado no país, dada a relevância dela na vida da população.
"A energia elétrica se manifesta na inflação de forma direta, encarecendo a tarifa de energia, e aparece indiretamente no preço de muita coisa que a gente consome e nem sabe. Qualquer produto industrializado, seja um carro ou um alimento, passa por uma fábrica que consumiu energia, formando sua parte de custos, que pode ser transmitida ao consumidor final”, apontou Braz.
É por essa relevância, segundo Braz, que ocorre o “espalhamento [da alta de preços] e a pressão inflacionária que a gente vê agora”.
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O economista Gesner Oliveira, sócio da GO Associados, destacou que, além da geração de energia, a crise hídrica também afeta o setor agropecuário, encarecendo o preço de grãos e da carne, devido à seca que afeta lavouras e pastagens.
“Já ocorreu um impacto grande na safra do milho e da cana, o que faz subir o preço do açúcar e do etanol”, apontou Oliveira.
Segundo o coordenador de Índice de Preços ao Consumidor da FGV-Ibre, André Braz, a energia elétrica compromete, aproximadamente, 4,5% do orçamento familiar. Para as famílias mais pobres, o comprometimento é ainda maior, podendo chegar a 6,5% ou 7%.
“Apesar das famílias de baixa renda terem casas menores e menos equipadas, tendo consumo elétrico proporcional, a energia pesa mais para eles que para as famílias mais ricas”, afirmou.
Dois fatores explicam essa dinâmica que confere aspecto mais perverso do reajuste nas contas de luz para as famílias de baixa renda:
- Os mais pobres consomem menos que os mais ricos. Portanto, qualquer aumento de um item que faça parte do orçamento familiar desse grupo vai ter um impacto maior.
- Quem ganha menos também tem uma capacidade menor de absorver esses choques. Os mais ricos podem, por exemplo, deixar de comprar bens supérfluos ou reduzir o valor poupado todo mês para arcar com custos elevados.
“Desde que começou esse ciclo de alta de energia elétrica, a inflação das famílias mais pobres é maior do que a inflação das famílias mais ricas”, apontou Maria Andreia Parente, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
"No ano passado, esse quadro ocorria por causa do alimento, mas, agora, se dá pela energia elétrica”, enfatizou a pesquisadora
De acordo com o Ipea, até julho a inflação acumulada em 12 meses para as famílias de renda muito baixa (menos de R$ 1.650,50 por mês) chegou a 10,05%. Entre os mais ricos (renda maior que R$ 16.509,66 por mês), o avanço no mesmo período foi de 7,11%.
Contas podem ficar ainda mais caras
O agravamento da crise hídrica deve fazer com que o patamar 2 da bandeira tarifária vermelha da conta de luz seja reajustado novamente em setembro, conforme adiantou nesta quarta-feira (25) o Blog da Ana Flor.
A decisão será tomada na próxima terça-feira, pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Em agosto, a opção da agência foi não reajustar o valor, mesmo com defasagem na conta das distribuidoras.
Especialistas a par das discussões afirmam que o reajuste pode levar o atual patamar 2 de R$ 9,49 por kw/h consumido para R$ 11 ou até R$ 15, o que corresponderia a um reajuste, respectivamente de 20% ou mais de 50%.
Segundo André Braz, a FGV-Ibre prevê que o novo valor da referida bandeira tarifária seja fixado em R$ 11,50 - montante defendido pela equipe técnica em junho, quando a Aneel acabou decidindo por um reajuste menor.
"Se o valor da bandeira vermelha patamar 2 passar dos atual R$ 9,50 para R$ 11,50, será um aumento de 21% sobre a tarifa, mas que terá impacto e 3% nas contas de luz dos consumidores", apontou Braz.
Freio adicional à recuperação econômica
Para o economista Gesner Oliveira, sócio da GO Associados, o agravamento da crise hídrica pode afetar o ritmo de recuperação da economia, freando o crescimento, sobretudo, do agronegócio e da indústria.
“A crise hídrica gera problemas também nas expectativas, tanto em expectativas de recuperação da economia quanto de investimentos. Quem estiver pensando em fazer um grande talvez prefira retardar um pouco para ver o que vai acontecer. É um freio no PIB”, disse Oliveira.
Ela avalia que o governo tem sido lento em transmitir para a sociedade a gravidade do problema.
“É análogo à crise sanitária: ‘Não, é uma gripezinha, pode deixar, é tranquilo, isso é normal’. E de repente, tem a pandemia. O governo deveria conscientizar as pessoas e falar: ‘Olha, há um problema sério no regime de chuvas e nós tomaremos medidas e vai ser necessário um consumo consciente”, afirma.
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