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quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Serviços e comércio lideram demissões no ano; veja cargos que mais perderam e ganharam vagas

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Indústria e construção foram os destaques de recuperação de postos de trabalho com carteira assinada em julho e agosto. Com fim do auxílio emergencial e incertezas fiscais, analistas avaliam que desemprego deve continuar subindo e que estoque de empregos formais só irá recuperar o nível pré-pandemia a partir do final de 2021.  
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Por Darlan Alvarenga, G1  
07/10/2020 06h00 Atualizado há uma hora
Postado em 07 de outubro de 2020 às 07h10m

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O número de contratações com carteira assinada superou o de demissões pelo segundo mês consecutivo em agosto – mas seguiu longe de recuperar as perdas da pandemia do coronavírus: no acumulado do ano, o país ainda registra perda de quase 850 mil vagas. Desse total, a maioria dos empregos perdidos está concentrada no setor de serviços e no comércio, com destaque para as atividades que continuam com restrições.

Já a indústria e a construção civil têm liderado o movimento de recuperação, nestes primeiros meses de flexibilização e reabertura da economia, dos empregos perdidos desde o início da pandemia.

Setores

Levantamento do G1 a partir dos dados do Painel de Informações do Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério da Economia, mostra os setores e atividades que mais perderam postos de trabalho formais no ano, e também o ranking das ocupações com maior número de vagas com carteira assinada criadas em julho e agosto. Veja gráficos e quadros abaixo:

Saldo de vagas com carteira assinada por setor da economia — Foto: Economia G1
Saldo de vagas com carteira assinada por setor da economia — Foto: Economia G1

Entre as grandes categorias, agropecuária (mais 98.320 vagas) e construção civil (58.464 vagas) foram os únicos setores que no acumulado no ano até agosto ampliaram a mão de obra empregada com carteira assinada.

As atividades mais afetadas pela pandemia e, consequentemente, com maior número de cortes foram as associadas ao comércio, alimentação fora de casa, turismo e transportes.

Cargos

No topo da lista de cargos que mais tiveram postos de trabalho destruídos aparece a categoria "vendedores e demonstradores", com 249.674 empregos com carteira assinada eliminados no ano.

Na sequência, estão os "garçons, barmen, copeiros e sommeliers" (menos 131.693 vagas), os "escriturários em geral e assistentes administrativos" (menos 92.706), "cozinheiros" (menos 62.474) e os "trabalhadores auxiliares nos serviços de alimentação" (menos 45.353). (Veja a lista completa mais abaixo)

"As atividades que estão demitindo ainda estão muito ligadas aos serviços, que foram muito impactados pela pandemia. Pensa nos restaurantes e nos pequenos comércios que não têm como voltar totalmente. Tentaram se segurar até onde dava, começam a abrir, mas ainda têm que demitir", avalia o economista Sergio Vale, da MB Associados.

Quase 250 mil empregos com carteira assinada são criados, mas desemprego bate recorde
Quase 250 mil empregos com carteira assinada são criados, mas desemprego bate recorde

O país encerrou o mês de agosto com 37,9 milhões de postos de trabalho com carteira assinada, contra 39,1 milhões em fevereiro, antes das paralisações e medidas de isolamento para contenção da Covid-19.

Vale destacar, no entanto, que esses números refletem apenas o emprego formal. Dados do IBGE mostram que o impacto da pandemia foi ainda maior no emprego informal, com um fechamento total de 7,2 milhões de postos de trabalho no Brasil em apenas 3 meses.

Atividades que mais perderam vagas no ano — Foto: Economia G1
Atividades que mais perderam vagas no ano — Foto: Economia G1

Demissões por gênero, escolaridade e faixa etária

Os dados do Caged mostram também que as demissões atingiram mais mulheres, trabalhadores que possuem apenas o ensino médio e profissionais na faixa de idade entre 50 e 64 anos.

"Quanto mais tempo fora, mas difícil é para voltar", afirma Vale, citando também a perspectiva de aumento do número de pessoas que passaram a disputar uma vaga de emprego com a redução e encerramento do auxílio emergencial.

O economista prevê que a taxa de desemprego, atualmente no patamar de 13,8%, deverá chegar nos próximos meses na casa de 17%. "O desemprego deve crescer até o começo do ano que vem e aí tende a começar a cair. Eu diria que uma queda mais consistente só deverá ocorrer no segundo semestre do ano que vem", avalia.


Saldo de empregos formais no ano por idade, escolaridade e gênero — Foto: Reprodução/Painel de Informações do Novo Caged
Saldo de empregos formais no ano por idade, escolaridade e gênero — Foto: Reprodução/Painel de Informações do Novo Caged

Indústria e construção são destaques de recuperação

Embora o saldo de novas vagas no mês de agosto tenha superado as expectativas do mercado, a recuperação do mercado de trabalho formal tem se mostrado bem desigual entre os setores.

Nos últimos meses a criação de empregos formais tem sido puxada pela indústria e pela construção. Do saldo de 390.578 vagas criadas em julho e agosto, mais de 60% foram concentradas nesses setores.

O setor de serviços, que historicamente é responsável por cerca de 45% da geração de empregos formais no país, respondeu por apenas pouco mais de 10% do saldo de julho e agosto.

"É uma retomada desigual com os serviços ainda com o freio de mão puxado", resume o economista Thiago Xavier, da Tendências Consultoria.

Criação de novas vagas no acumulado em julho e agosto — Foto: Economia G1
Criação de novas vagas no acumulado em julho e agosto — Foto: Economia G1

Apesar de ainda não ter recuperado o nível de atividade e emprego pré-pandemia, o setor industrial engatou o 4º mês seguido de alta na produção e tem liderando o otimismo entre os empresários em relação à evolução dos negócios nos próximos meses.

Já a construção civil tem sido puxada pelo mercado imobiliário, que voltou a reaquecer com a queda da taxa básica de juros, a Selic, para o patamar de 2% ao ano.

Atividades que mais abriram vagas de empregos em julho e agosto

Atividades que mais criaram vagas de empregos em julho e agosto — Foto: Economia G1
Atividades que mais criaram vagas de empregos em julho e agosto — Foto: Economia G1

Quando analisados apenas os meses de julho e agosto, quando o país voltou a registrar saldo positivo de vagas, a ocupação com maior criação de empregos formais é de "alimentadores de linhas de produção", com 87.935 novas vagas. A função reúne trabalhadores da produção de bens e serviços industriais, que abastecem linhas de produção, alimentam máquinas e organizam a área de serviço.

Na sequência, estão os cargos de "ajudantes de obras civis" (37.565 novas vagas), almoxarifes e armazenistas (26.380), "vendedores e demonstradores" (24.889) e trabalhadores nos serviços de manutenção de edificações (16.551).

De uma maneira geral, o topo do ranking de abertura de novas vagas é dominado por empregos relacionados a atividades operacionais, de início de carreira e com salários médios mais baixos. Em agosto, o salário médio de admissão no país ficou em R$ 1.725. O maior valor médio do ano, já considerando a inflação, foi registrado em abril (R$ 1.830). 
Perspectivas para próximos meses e 2021

Os resultados do Caged de julho e agosto acima do esperado têm levado a uma melhora das projeções para o ano. A Tendências revisou a estimativa de perda de 1,2 milhão de vagas no ano para um número mais próximo a 1 milhão. A MB Associados espera agora um saldo negativo ao redor de 900 mil. Já a JF Trust estima que as demissões superem as contratações no ano em um número ao redor de 700 mil.

Segundo Xavier, mesmo com a perspectiva de novos resultados positivos em setembro, outubro e novembro, há ainda muitos "limitantes" para uma recuperação mais firme do mercado de trabalho como as incertezas sobre a trajetória da dívida do governo.

Ele cita também o fim do auxílio emergencial e a perspectiva também de encerramento no final ano do programa federal de suspensão e redução de jornada, que hoje beneficia 10 milhões de trabalhadores, ou 1 em cada 4 profissionais com carteira assinada.

"Ainda temos praticamente 30% das empresas dizendo que têm um impacto negativo no faturamento por conta da pandemia. O que vai ser um dos fatores-chave é se a velocidade de normalização do faturamento das empresas vai acontecer de forma compatível com a retirada dos estímulos financeiros que forem dados", destaca.

Já Vale destaca os riscos associados à evolução da pandemia e as preocupações em torno da aceleração da inflação e possíveis impactos na taxa de juros. "Estamos falando de uma recuperação lenta da economia e tem um cenário de longo prazo que começa a ficar tumultuado", diz.

Na avaliação dos analistas, o estoque de empregos com carteira assinada só deverá retomar o nível pré-pandemia, no melhor das hipóteses, a partir do fim de 2021, a depender sobretudo do horizonte de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), do andamento da agenda de reformas estruturais e da retomada dos investimentos.

Para o economista-chefe da gestora JF Trust, Eduardo Velho, o Brasil só conseguirá zerar as perdas da pandemia se conseguir crescer a uma taxa acima de 3% em 2021. "Agora, se a alta da economia ficar na faixa de 1% a 2%, como foi nos últimos 3 anos, só vamos recuperar o nível de emprego pré-pandemia em 2022, bem próximo da eleição presidencial", afirma.

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