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Levantamento mostra que indicador segue há anos bem abaixo da média observada em economias emergentes. Taxa projetada para este ano no Brasil é de 18,4% do PIB, contra 19,2% em 2021.--------+++-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------+++---------
Por Darlan Alvarenga, g1
Postado em 01 de junho de 2022 às 10h05m
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A taxa de investimentos no Brasil segue há anos em patamar baixo e deve ficar menor que a de 82% dos países em 2022, segundo um levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), antecipado com exclusividade para o g1.
O estudo da pesquisadora Juliana Trece mostra que 139 de um total de 170 países devem apresentar um nível de investimento em proporção ao PIB (Produto Interno Bruto) maior do que o Brasil neste ano – uma piora frente a 2021, quando 132 países, ou 77%, tiveram um desempenho melhor que o brasileiro.
O estudo foi feito com base nas últimas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a economia global e nas estimativas do Monitor do PIB-FGV para o 1º trimestre.
Veja no quadro abaixo:
A taxa de investimento prevista para o Brasil em 2022 é de 18,4% do PIB, contra 19,2% em 2021. Se confirmada, será a primeira queda após 5 anos de recuperação. Já a taxa de investimento média no mundo no ano é projetada em 27,3% para a lista de 170 países, o que representaria um avanço ante os 26,7% do ano passado.
Para a China, a previsão é de uma taxa de 42,5% do PIB neste ano. Entre os países do topo do ranking de investimento, destaque também para outros emergentes como Coreia (33,5%), Índia (32,11%) e Turquia (31,7%). Na América do Sul, a taxa deve chegar a 26,7% do PIB no Chile e a 25,1% no Peru. Até a Argentina, que enfrenta há anos uma forte crise econômica, deve apresentar um índice maior que a do Brasil, com taxa prevista de 19,6% do PIB.
"Mesmo quando a gente olha América Latina e Caribe, que têm um retrato mais próximo do nosso, a taxa de investimento do Brasil é mais baixa. Historicamente, o Brasil tem mesmo uma taxa de investimento abaixo da maioria dos países, só que a proporção subiu a partir de 2000", afirma a pesquisadora, destacando que até as décadas de 70 e 80 o percentual de países com desempenho melhor que o brasileiro no indicador continuava na casa dos 70%.
"Uma taxa de investimento mais alta ajudaria a quebrar esse ciclo de baixo crescimento e alto desemprego", acrescenta.
Com base nas estimativas do FMI até 2027, o estudo afirma que, mantido o padrão atual, o Brasil deve permanecer como um dos países com as menores taxas de investimento em proporção do PIB. "Para esses próximos cinco anos, em média, 83% dos países devem apresentar uma taxa de investimento (% do PIB) maior do que o Brasil", diz Trece.
"Uma taxa de investimento mais elevada tem uma relação direta com o crescimento da economia e com o emprego. Quando a gente olha o cenário internacional e vê que o Brasil está com um nível muito mais baixo, isso mostra problemas também para a geração de novas vagas", explica.
O resultado oficial do PIB do 1º trimestre será divulgado na quinta-feira (2) pelo IBGE. A expectativa dos analistas é de um crescimento superior a 1% na comparação com os 3 últimos meses de 2021, impulsionado pelo normalização do setor de serviços e pela alta nos preços das commodities. A expectativa, porém é de desaceleração da economia e de maior fraqueza no segundo semestre.
O que explica o patamar baixo dos investimentos?
A taxa de investimento, medida pela formação bruta de capital fixo (FBCF) cresceu nos últimos 4 anos e fechou 2021 em de 19,2% do PIB em 2021, acima dos 16,6% registrados em 2020.
Apesar de surpreender no ano passado, o nível de investimentos ainda se manteve abaixo do patamar de 2013 (20,9%) e longe do pico de 26,9% registrado no final dos anos 80.
Entre os fatores que explicam o patamar mais baixo estão os impactos da forte recessão dos anos 2014-2016 e a piora da situação fiscal do país, que derrubou os investimentos do setor público. Já são 10 anos seguidos de contas do governo no vermelho.
De acordo com o estudo do Ibre, o componente da taxa de investimentos que mais encolheu no país nos últimos anos foi a construção, que inclui também as grandes obras de infraestrutura nas áreas de energia, transportes e saneamento.
Historicamente, a construção sempre apresentou um peso maior nos investimentos, porém, vem perdendo representatividade desde a década de 2000.
Veja gráfico no abaixo:
"A construção teve uma melhora em 2021, mas não chega nem perto do que já foi. Isso é o que mais preocupa", afirma Trece, destacando que o segmento chegou a representar 75% da taxa de investimentos na década de 40.
Segundo a pesquisadora, a melhora da taxa de investimentos em 2021 foi impulsionada pelo segmento de máquinas e equipamentos, que é um componente mais volátil e já voltou a mostrar perda de força neste começo de ano. "2021 foi muito mais algo fora da curva do que uma volta da taxa de investimento ao patamar pré-crise de 2014-2016".
Tombo dos investimentos públicos
Levantamento recente do economista Manoel Pires, coordenador do Observatório de Política Fiscal do Ibre/FGV, mostrou que a taxa de investimentos públicos, somando União, estados, municípios e as estatais federais, caiu de 4,72% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2010 para 2,05% do PIB em 2021. Foi o segundo pior índice da série histórica, iniciada em 1947, atrás apenas de 2017 (1,94% do PIB).
Mesmo com os esforços do governo federal em avançar a agenda de concessões e de privatizações, os investimentos em infraestrutura seguem abaixo do desejado. Diversos estudos têm alertado que o investimento em infraestrutura teria que ao menos dobrar para o Brasil poder dar um salto de competitividade e sair do atual padrão de baixo crescimento.
A consultoria Inter.B estima que os investimentos no setor ficaram em 1,73% em 2021 e projeta taxa de 1,71% em 2021, frente a uma necessidade de um patamar mínimo de 3,6% "para ensejar um processo de modernização ao longo das próximas duas décadas".
Ou seja, o nível de investimento privado não tem sido suficiente para garantir uma retomada da taxa de investimentos e da atividade econômica como um todo ao nível pré-crises.
"Está muito difícil aumentar os investimentos só com o setor privado e o setor público realmente está realmente sem muito margem para aumentar os gastos. Então fica travado mesmo, o que mostra que se trata de um problema estrutural do qual o país não consegue sair", alerta.
Entre os fatores que pressionam os investimentos no curto e médio prazo, os analistas destacam as incertezas políticas intensificadas pelo ano de eleições presidenciais e a taxa básica de juros elevada e ainda em ciclo de alta, o que encarece o crédito e reduz o apetite empresarial por projetos que dependem de financiamento e de desembolsos mais robustos.
Segundo os economistas, a atração de maior volume de investimentos passa pelo avanço da agenda de reformas, melhoria do ambiente de negócios no país e modernização da governança dos investimentos públicos e da gestão dos apertados orçamentos dos governos.
"O véu de incerteza e a destruição reputacional do país afastaram entrantes no setor. Atrair novo capital privado irá demandar a reconstrução da nossa imagem, adesão à OCDE, estabilidade macroeconômica e uma melhoria sustentada na classificação de risco", destacou a Inter.B, ao divulgar no início de maio sua projeção para os investimentos em infraestrutura no país em 2022.
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