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quarta-feira, 1 de junho de 2022

Taxa de investimento do Brasil deve ser menor que a de 82% dos países em 2022, aponta FGV

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Levantamento mostra que indicador segue há anos bem abaixo da média observada em economias emergentes. Taxa projetada para este ano no Brasil é de 18,4% do PIB, contra 19,2% em 2021.
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Por Darlan Alvarenga, g1

Postado em 01 de junho de 2022 às 10h05m

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A taxa de investimentos no Brasil segue há anos em patamar baixo e deve ficar menor que a de 82% dos países em 2022, segundo um levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), antecipado com exclusividade para o g1.

O estudo da pesquisadora Juliana Trece mostra que 139 de um total de 170 países devem apresentar um nível de investimento em proporção ao PIB (Produto Interno Bruto) maior do que o Brasil neste ano – uma piora frente a 2021, quando 132 países, ou 77%, tiveram um desempenho melhor que o brasileiro.

O estudo foi feito com base nas últimas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a economia global e nas estimativas do Monitor do PIB-FGV para o 1º trimestre.

Veja no quadro abaixo:

A taxa de investimentos apura tudo o que se investe em máquinas, bens duráveis, aumento da capacidade produtiva, construção civil, infraestrutura, além de pesquisa e desenvolvimento

O avanço deste componente do PIB é considerado fundamental para abertura de novas empresas, geração de mais empregos e, consequentemente, um maior crescimento potencial de uma economia.

A taxa de investimento prevista para o Brasil em 2022 é de 18,4% do PIB, contra 19,2% em 2021. Se confirmada, será a primeira queda após 5 anos de recuperação. Já a taxa de investimento média no mundo no ano é projetada em 27,3% para a lista de 170 países, o que representaria um avanço ante os 26,7% do ano passado.

Para a China, a previsão é de uma taxa de 42,5% do PIB neste ano. Entre os países do topo do ranking de investimento, destaque também para outros emergentes como Coreia (33,5%), Índia (32,11%) e Turquia (31,7%). Na América do Sul, a taxa deve chegar a 26,7% do PIB no Chile e a 25,1% no Peru. Até a Argentina, que enfrenta há anos uma forte crise econômica, deve apresentar um índice maior que a do Brasil, com taxa prevista de 19,6% do PIB.

"Mesmo quando a gente olha América Latina e Caribe, que têm um retrato mais próximo do nosso, a taxa de investimento do Brasil é mais baixa. Historicamente, o Brasil tem mesmo uma taxa de investimento abaixo da maioria dos países, só que a proporção subiu a partir de 2000", afirma a pesquisadora, destacando que até as décadas de 70 e 80 o percentual de países com desempenho melhor que o brasileiro no indicador continuava na casa dos 70%.

"Uma taxa de investimento mais alta ajudaria a quebrar esse ciclo de baixo crescimento e alto desemprego", acrescenta.

Com base nas estimativas do FMI até 2027, o estudo afirma que, mantido o padrão atual, o Brasil deve permanecer como um dos países com as menores taxas de investimento em proporção do PIB. "Para esses próximos cinco anos, em média, 83% dos países devem apresentar uma taxa de investimento (% do PIB) maior do que o Brasil", diz Trece.

"Uma taxa de investimento mais elevada tem uma relação direta com o crescimento da economia e com o emprego. Quando a gente olha o cenário internacional e vê que o Brasil está com um nível muito mais baixo, isso mostra problemas também para a geração de novas vagas", explica.

O resultado oficial do PIB do 1º trimestre será divulgado na quinta-feira (2) pelo IBGE. A expectativa dos analistas é de um crescimento superior a 1% na comparação com os 3 últimos meses de 2021, impulsionado pelo normalização do setor de serviços e pela alta nos preços das commodities. A expectativa, porém é de desaceleração da economia e de maior fraqueza no segundo semestre.

O que explica o patamar baixo dos investimentos?

A taxa de investimento, medida pela formação bruta de capital fixo (FBCF) cresceu nos últimos 4 anos e fechou 2021 em de 19,2% do PIB em 2021, acima dos 16,6% registrados em 2020.

Apesar de surpreender no ano passado, o nível de investimentos ainda se manteve abaixo do patamar de 2013 (20,9%) e longe do pico de 26,9% registrado no final dos anos 80.

Entre os fatores que explicam o patamar mais baixo estão os impactos da forte recessão dos anos 2014-2016 e a piora da situação fiscal do país, que derrubou os investimentos do setor público. Já são 10 anos seguidos de contas do governo no vermelho.

De acordo com o estudo do Ibre, o componente da taxa de investimentos que mais encolheu no país nos últimos anos foi a construção, que inclui também as grandes obras de infraestrutura nas áreas de energia, transportes e saneamento.

Historicamente, a construção sempre apresentou um peso maior nos investimentos, porém, vem perdendo representatividade desde a década de 2000.

Veja gráfico no abaixo:

"A construção teve uma melhora em 2021, mas não chega nem perto do que já foi. Isso é o que mais preocupa", afirma Trece, destacando que o segmento chegou a representar 75% da taxa de investimentos na década de 40.

Segundo a pesquisadora, a melhora da taxa de investimentos em 2021 foi impulsionada pelo segmento de máquinas e equipamentos, que é um componente mais volátil e já voltou a mostrar perda de força neste começo de ano. "2021 foi muito mais algo fora da curva do que uma volta da taxa de investimento ao patamar pré-crise de 2014-2016".

Tombo dos investimentos públicos

Levantamento recente do economista Manoel Pires, coordenador do Observatório de Política Fiscal do Ibre/FGV, mostrou que a taxa de investimentos públicos, somando União, estados, municípios e as estatais federais, caiu de 4,72% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2010 para 2,05% do PIB em 2021. Foi o segundo pior índice da série histórica, iniciada em 1947, atrás apenas de 2017 (1,94% do PIB).

Mesmo com os esforços do governo federal em avançar a agenda de concessões e de privatizações, os investimentos em infraestrutura seguem abaixo do desejado. Diversos estudos têm alertado que o investimento em infraestrutura teria que ao menos dobrar para o Brasil poder dar um salto de competitividade e sair do atual padrão de baixo crescimento.

A consultoria Inter.B estima que os investimentos no setor ficaram em 1,73% em 2021 e projeta taxa de 1,71% em 2021, frente a uma necessidade de um patamar mínimo de 3,6% "para ensejar um processo de modernização ao longo das próximas duas décadas".

Guedes vem defendendo saída da crise pela via do investimento privadoGuedes vem defendendo saída da crise pela via do investimento privado

Ou seja, o nível de investimento privado não tem sido suficiente para garantir uma retomada da taxa de investimentos e da atividade econômica como um todo ao nível pré-crises.

"Está muito difícil aumentar os investimentos só com o setor privado e o setor público realmente está realmente sem muito margem para aumentar os gastos. Então fica travado mesmo, o que mostra que se trata de um problema estrutural do qual o país não consegue sair", alerta.

Entre os fatores que pressionam os investimentos no curto e médio prazo, os analistas destacam as incertezas políticas intensificadas pelo ano de eleições presidenciais e a taxa básica de juros elevada e ainda em ciclo de alta, o que encarece o crédito e reduz o apetite empresarial por projetos que dependem de financiamento e de desembolsos mais robustos.

Segundo os economistas, a atração de maior volume de investimentos passa pelo avanço da agenda de reformas, melhoria do ambiente de negócios no país e modernização da governança dos investimentos públicos e da gestão dos apertados orçamentos dos governos.

"O véu de incerteza e a destruição reputacional do país afastaram entrantes no setor. Atrair novo capital privado irá demandar a reconstrução da nossa imagem, adesão à OCDE, estabilidade macroeconômica e uma melhoria sustentada na classificação de risco", destacou a Inter.B, ao divulgar no início de maio sua projeção para os investimentos em infraestrutura no país em 2022.

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