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sábado, 14 de janeiro de 2023

'Sobe e desce' do Ibovespa: entenda a dinâmica da bolsa de valores e como funcionam os pregões

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A valorização ou desvalorização do índice ocorre de acordo com o 'ânimo' do mercado. Especialistas ouvidos pelo g1 explicam como funciona o vaivém das bolsas.
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Por André Catto, g1

Postado em 14 de janeiro de 2023 às 07h45m

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Ibovespa — Foto: Freepik
Ibovespa — Foto: Freepik

O sobe e desce do Ibovespa, principal índice da bolsa de valores de São Paulo, a B3, chama a atenção em períodos de incerteza na economia. É o caso do cenário que tomou os holofotes desde as eleições presidenciais, que levaram Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de volta ao Palácio do Planalto, pela terceira vez.

Desde 31 de outubro, dia seguinte ao resultado, o índice recuou 3,61%, dos 116.037 aos 111.850 pontos.

Mas além do cenário eleitoral, há, na verdade, uma série de fatores que influenciam o vaivém do índice e é preciso compreender o que é a bolsa de valores e como ela funciona.

As variações ocorrem de acordo com o ânimo do mercado financeiro – em outras palavras, dos próprios investidores. Assim, a mudança de governo tem sua devida influência, à medida que os agentes econômicos repercutem (ou especulam) os movimentos da nova gestão. Há também as perspectivas econômicas do Brasil e do exterior, os resultados das empresas da bolsa, entre outros aspectos.

O que é a bolsa de valores?

Em termos práticos, trata-se de um de balcão de negócios. É o ambiente em que os investidores buscam pedaços das empresas de capital aberto, para se tornarem sócios daquele negócio. Esses pedaços são as ações, que são oferecidas por cada empresa em sua oferta pública inicial (os IPOs) e são, depois, negociadas entre os investidores ao preço do dia (a cotação do papel).

Essa é uma das formas que as empresas têm de captar dinheiro no mercado de capitais. Quando a empresa faz um IPO, os novos sócios pagam pela participação na empresa. Esses recursos entram no caixa da empresa e são utilizados como a diretoria desejar.

Mas além da venda de participação por meio das ações, há também os títulos de renda fixa que as empresas podem emitir no mercado. Existem algumas diferenças: neste caso, o investidor não passa a deter participação na empresa. Ao comprar, por exemplo, uma debênture (um título de dívida), o comprador está emprestando dinheiro à organização, que irá devolver com juros.

Esse tipo de investimento, contudo, não entra no índice Ibovespa, que é exclusivo para ações.

"Uma empresa, quando tem um projeto de investimento, quer adquirir outra empresa ou quer reduzir endividamento, ela precisa de recursos. Para isso, ela pode usar o caixa da companhia, emitir dívida, tomar crédito bancário ou vender um pedaço da empresa e receber dinheiro em troca disso", afirma Rogério Santana, diretor de relacionamento com clientes da B3.

A B3 é a bolsa de valores de São Paulo, considerada o "ponto de encontro" para empreendedores e investidores fazerem negócios.

A empresa é responsável pela "criação e administração de sistemas de negociação, compensação, liquidação, depósito e registro para todas as principais classes de ativos", entre outras atividades, segundo definição da própria B3.

De acordo com Santana, a principal função da bolsa pode ser dividida em três pilares:

  • padronização dos produtos oferecidos na bolsa (tipos de investimento);
  • risco de contraparte (garantia de entrega e segurança nas operações);
  • transparência, em tempo real, durante todo o processo de negociação.
Como funciona a bolsa de valores?

As operações de compra e venda são feitas por meio de corretoras especializadas e habilitadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). E a bolsa não para no comércio de ações. Antonio Sanches, analista da Rico Investimentos, enumera os ativos financeiros negociados no mercado. São eles:

  • ações;
  • derivativos;
  • ETFs;
  • BDRs;
  • fundos de investimentos.

Além da valorização das cotas — o tal sobe e desce das ações na bolsa —, algumas empresas devolvem esses valores por meio de dividendos, que são parte dos lucros obtidos em proporção ao número de ações que o investidor possui.

Quando a empresa vende aquele pedaço por meio das ações, ela promete um lucro futuro. Se esse lucro não vier, ela não tem nada a dar ao acionista. Se vier, ela fica mais valiosa no mercado ou distribui proporcionalmente ao percentual que o investidor tiver da empresa, explica Sanches. 
O que é o Ibovespa?

O Ibovespa é o índice da B3 que reúne os ativos com maior volume negociado no pregão da bolsa do Brasil — por isso, é considerado o indicador mais importante. Ele ajuda a mensurar o mercado acionário no país.

O índice oscila de acordo com a valorização ou desvalorização do conjunto de empresas que o compõem, tendo cada uma delas seu peso, considerando número de investimentos, aplicações e retiradas por parte dos agentes do mercado.

A bolsa de valores tem, atualmente, 473 empresas listadas. Ao todo, 89 papéis, de 86 empresas brasileiras, compõem o Ibovespa — ações ordinárias (ON) e preferenciais (PN) de uma mesma companhia podem integrar o indicador.

"Os índices sintetizam a performance do mercado. O Ibovespa é o que chamamos de índice amplo, que tenta sintetizar, em uma carteira, a performance média do mercado", explica Santana, da B3.

Para isso, há uma metodologia que define as empresas e ações que podem fazer parte do índice. São considerados o peso, o tamanho das empresas e o volume negociado.

"A partir desse momento, qualquer variação de preço dessas empresas vai influenciar no índice, de acordo com o peso que a empresa tiver", continua. 
O que define o valor das empresas?

Como tudo na economia, a oscilação de uma ação tem influência da lei da oferta e demanda: se a ação de uma determinada empresa tem maior procura, ela será mais valorizada.

E o oposto também vale. Quando um volume alto de investidores passa a vender os papéis de uma empresa, ela perde valor de mercado.

O preço de uma ação representa a expectativa de lucro futuro da empresa. Então, se a expectativa para o lucro futuro é alta, as ações se valorizam. Quando fica mais baixa, o valor da ação da empresa recua também, explica Antonio Sanches, da Rico.

Isso significa, na prática, que qualquer fator que influencie na expectativa de futuro da empresa — incluindo o contexto econômico do país e do mundo — irá impactar no preço de suas ações.

Sanches traz o exemplo de uma empresa de petróleo. Se ela descobre um novo poço para extração, as ações vão se valorizar, porque investidores esperam que a empresa produza mais, venda mais e tenha mais lucro no futuro, diz.

Os cenários político e econômico do país entram no jogo quando há mudanças de legislação, de segurança jurídica ou de saúde econômica — como dados de inflação e câmbio, entre outros fatores que influenciam ou podem influenciar os resultados das empresas listadas na bolsa.

Já no exterior, as principais influências vêm da atividade econômica global, da aversão a risco por parte dos investidores e do desempenho dos principais parceiros econômicos do país — o que inclui fatores que possam refletir na oferta e demanda de produtos negociados pelas empresas.

"As empresas que mais chamam atenção nesse momento político [de troca de governo e definição de gestão] são as estatais, já que existe o risco de que o governo utilize essas empresas de acordo com seu próprio interesse, impactando na geração de lucro e prejudicando as ações", afirma Sanches. 
Quem não investe é impactado?

"Para as pessoas que não investem em ações, a bolsa tem que ser interpretada como um termômetro do futuro", diz Rogério Santana, diretor da B3, reforçando que a reação do mercado é, naturalmente, uma projeção econômica de longo prazo.

"Se o mercado, com análises e projeções, observando as empresas e a economia global, está em um movimento em que as ações estão subindo, provavelmente é porque há uma previsão mais positiva do que vai acontecer no futuro", continua.

Antonio Sanches, da Rico Investimentos, destaca que o mercado de ações é parte de um sistema financeiro bastante amplo e, portanto, a sua existência facilita o encontro de quem quer investir e quem precisa de dinheiro para financiar seus projetos.

"Esse sistema acaba impactando bastante no crescimento econômico, assim como a criação de empregos no país e seu desenvolvimento. Afinal, se você tem dinheiro para gerar emprego, gerar riqueza e desenvolver alguma atividade, isso impacta diretamente na economia", finaliza.
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