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Taxa ficou em 0,93% em março, maior alta para o mês desde 2015. Principais impactos vieram dos aumentos nos preços de combustíveis (11,23%) e do gás de botijão (4,98%).--------+++-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------+++---------
Por Darlan Alvarenga e Daniel Silveira — São Paulo e Rio de Janeiro
Postado em 09 de abril de 2021 às 10h00m
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IPCA de março é o maior para o mês desde 2015
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, ficou em 0,93% em março, acima da taxa de 0,86% registrada em fevereiro. Com essa aceleração, o indicador acumulado em 12 meses estourou o teto da meta do governo para a inflação no ano, algo que não acontecia há quatro anos. É o que apontam os dados divulgados nesta sexta-feira (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A taxa de 0,93% "é o maior resultado para um mês de março desde 2015, quando foi registrada inflação de 1,32%", destacou o IBGE.
Os principais impactos na inflação do mês vieram dos aumentos nos preços de combustíveis (11,23%) e do gás de botijão (4,98%).
Inflação foi a maior para um mês de março desde 2015 — Foto: Economia/G1
Salto de 6,10% em 12 meses
No ano, o IPCA acumula alta de 2,05%. Já em 12 meses, a inflação acumula alta de 6,10%, acima dos 5,20% observados nos 12 meses imediatamente anteriores e a maior para esse intervalo de tempo desde dezembro de 2016, quando ficou em 6,29%.
A taxa em 12 meses ficou pela primeira vez no ano acima do limite superior da meta de inflação estabelecida para este ano – o centro da meta é de 3,75%, podendo variar entre 2,25% e 5,25%.
Segundo o IBGE, a última vez que o indicador ultrapassou o teto da meta do Banco Central foi em novembro de 2016, quando ficou em 6,99%. Naquele ano, o teto da meta era de 6,5%.
Indicador da inflação acumulada em 12 meses superou, em março, o teto
da meta estabelecida pelo Banco Central — Foto: Economia/G1
Apesar de estourar o teto da meta para o ano, o IPCA veio abaixo das expectativas. Pesquisa da Reuters apontou que a projeção de analistas era de alta de 1,03% em março, acumulando em 12 meses alta de 6,20%.
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Dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados, 6 tiveram avanço nos preços em março. Os Transportes tiveram a maior alta (3,81%) e o maior impacto 0,77 ponto percentual (p.p.) no índice do mês. Veja o resultado para cada um deles:
- Alimentação e bebidas: 0,13%
- Habitação: 0,81%
- Artigos de residência: 0,69%
- Vestuário: 0,29%
- Transportes: 3,81%
- Saúde e cuidados pessoais: -0,02%
- Despesas pessoais: 0,04%
- Educação: -0,52%
- Comunicação: -0,07%
Segundo o IBGE, a gasolina (11,26%) foi o item que exerceu o maior impacto sobre o índice do mês, respondendo sozinha por 0,60 ponto percentual (p.p.) do IPCA de março, com variações que foram desde 6,32% em São Luís até 14,45% no Rio de Janeiro.
Os preços do etanol (12,59%) e do óleo diesel (9,05%) também subiram, contribuindo conjuntamente com mais 0,11 p.p. para a taxa de inflação de março.
No acumulado em 12 meses, o etanol tem alta de 25,19%, a gasolina de 23,48% e o diesel de 17,10%.
“Foram aplicados sucessivos reajustes nos preços da gasolina e do óleo diesel nas refinarias entre fevereiro e março e isso acabou impactando os preços de venda para o consumidor final nas bombas. A gasolina nos postos teve alta de 11,26%, o etanol, de 12,59% e o óleo diesel, de 9,05%. O mesmo aconteceu com o gás, que teve dois reajustes nas refinarias nesse período, acumulando alta de 10,46%, e agora o consumidor percebe esse aumento”, afirmou o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.
O segundo maior impacto sobre o IPCA do mês veio do grupo Habitação (0,81%), principalmente devido ao gás de botijão (4,98%), que acumula alta de 20,01% nos últimos 12 meses, e da energia elétrica (0,76%).
Alta nos preços de alimentos desacelera
A boa notícia para o consumidor, segundo o IBGE, é que a inflação do grupo Alimentação e bebidas continuou em desaceleração. Em março, a alta foi de 0,13%, após variações de 1,74% em dezembro, 1,02% em janeiro e de 0,27% em fevereiro. Vale lembrar que, em 2020, os alimentos tiveram alta de 14,09%.
Segundo o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov, a desaceleração dos preços dos alimentos está relacionada à queda da demanda e pode, inclusive, ter influência da suspensão do auxílio emergencial, que não foi pago nos primeiros meses do ano, que impactou na redução da renda da população.
“Mas há, em alguns casos, também uma retenção de consumo. Nesse momento em que a pandemia se agravou e voltaram a ser estabelecidas medidas de restrição à circulação de pessoas e funcionamento do comércio, as pessoas compram menos alimentos perecíveis, dando preferência aos alimentos que podem ser estocados. O fechamento de restaurantes também provoca a redução do consumo desses alimentos”, apontou.
Entre os preços que caíram em março, destaque para o tomate (-14,12%), batata-inglesa (-8,81%), arroz (-2,13%) e leite longa vida (-2,27%). Por outro lado, o preço das carnes voltou a subir (0,85%), após alta de 1,72% em fevereiro.
Entre todos os subitens pesquisados pelo IBGE, os preços que mais subiram no acumulado em 12 meses foram os do óleo de soja (81,73%), arroz (63,56%) e do limão (62,29%).
Inflação de serviços sobe bem abaixo do IPCA
Em direção contrária, a inflação de serviços desacelerou para 0,12% em março, após subir 0,55% em fevereiro, evidenciando a recuperação mais lenta do setor, que tem se mostrado o mais impactado pela pandemia de coronavírus e pelas medidas de restrição.
O aluguel de veículo, por exemplo, teve deflação de 14,02%. Também houve queda nos preços de transporte por aplicativo (-3,42%), de pacote turístico (-2,93%), de passagem aérea (-1,96%) e de hospedagem (-1,38%).
Inflação por regiões
No que diz respeito aos índices regionais, todas as áreas pesquisadas pelo IBGE registraram altas em março. A maior inflação foi verificada em Goiânia (1,46%), enquanto que o menor índice foi observado na região metropolitana do Recife (0,62%).
Apesar da aceleração em março, a inflação se espalhou menos pelos produtos e serviços que compõem o IPCA. O chamado Índice de Difusão, que mede a proporção de bens e atividades que tiveram aumento de preços, caiu, de 63,4% em fevereiro, para 62,6% no mês passado, segundo cálculos do Valor Data considerando todos os itens da cesta.
Custos da construção sobem 1,45% em março
O IBGE também divulgou que o Índice Nacional da Construção Civil (Sinapi), subiu 1,45% em março. No primeiro trimestre do ano, acumulou aumento de 4,84% e, nos últimos 12 meses, teve um salto de 14,46%, com destaque para o acumulado das parcelas dos materiais, que em 12 meses atingiu 24,61%.
INPC sobe 0,86% em março
Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), usado como referência para reajustes salariais e benefícios previdenciários, subiu 0,86%, resultado levemente acima do de fevereiro (0,82%) e também o maior índice para um mês de março desde 2015, quando o INPC variou 1,51%. No ano, o indicador acumula alta de 1,96% e, em 12 meses, de 6,94%.
Perspectivas e meta de inflação
"Está claro que há um processo inflacionário de custos no Brasil e não há o que fazer no curto prazo, no entanto o Banco Central está querendo ancorar mais o longo prazo e para isso está jogando contra eventos importantes como a questão fiscal e a alta dos IGPs", avaliou o economista da Necton, André Perfeito.
A meta central do governo para a inflação em 2021 é de 3,75%, e o intervalo de tolerância varia de 2,25% a 5,25%. Para alcançá-la, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia (Selic), que agora está em 2,75% ao ano.
Os analistas das instituições financeiras projetam uma inflação de 4,81% no ano, acima da meta central do governo, mas abaixo do teto, conforme aponta a última pesquisa Focus do Banco Central. O mercado mantém a expectativa para a taxa Selic em 5% ao ano, o que pressupõe novas altas do juro básico.
"Vemos as pressões de alta ainda em curso, por conta da depreciação cambial e da interrupção da cadeia produtiva", comentou Tatiana Nogueira, economista da XP, que projeta inflação de 4,9% no ano.
Em 2020, a inflação fechou em 4,52%, acima do centro da meta do governo, que era de 4%. Foi a maior inflação anual desde 2016.
Metas para a inflação estabelecidas pelo Banco Central — Foto: Aparecido Gonçalves/Arte G1
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