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O neologismo junta ganância e inflação, mas para os economistas, a explicação pelos altos índices dos últimos anos é mais complexa.<<<===+===.=.=.= =---____-------- ----------____---------____::____ ____= =..= = =..= =..= = =____ ____::____-----------_ ___---------- ----------____---.=.=.=.= +====>>>
Por Felipe Gutierrez
Postado em 15 de julho de 2023 às 07h15m
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Imagem de dólares em máquina de contar dinheiro — Foto: JN
De 2021 para cá, a inflação nos Estados Unidos e na Europa atingiu níveis bem mais elevados do que a média das últimas décadas: o índice nos EUA chegou a bater em 8,6%, e, na zona do euro, passou de 7%.
Nos veículos de imprensa estrangeiros surgiu uma nova explicação para esses índices de preços: a inflação estaria sendo acelerada pela ganância das empresas, que conseguiram aumentar preços sem perder margens de lucro --ou seja, as vendas não caíram.
A esse conceito se deu o nome de “greedflation”, um neologismo de composição que junta “greed” (ganância) e inflação.
A ideia é que as empresas que têm poder de mercado tiraram vantagem dessa força e aumentaram preços para além do que seria razoável. Isso, no entanto, é controverso.
Modelo de estudos econômicos
Nas aulas de economia, os modelos de estudo mais simples preveem que os mercados são plenamente competitivos –ou seja, nenhum agente econômico consegue, sozinho, estabelecer um preço; e todos, empresas e consumidores, estão sujeitos às curvas de oferta e demanda.
Nesses modelos, se o preço de um bem está muito alto, mais empresas vão começar a ofertar esse mesmo produto, e o preço vai voltar ao equilíbrio.
E o que causaria a inflação, por esses modelos? As explicações mais comuns são as seguintes:
- Pressões de oferta (por exemplo, se uma seca destruiu a lavoura de tomate, haverá menos oferta, e o preço vai subir).
- Pressões de demanda (se todos quiserem comprar tomates, o preço do tomate vai subir).
- Teoria quantitativa da moeda (há excesso de dinheiro em circulação, o que faz com que o dinheiro perca valor –por exemplo, na Argentina, o governo emite muita moeda).
No entanto, no mundo real, os mercados não são plenamente competitivos. Algumas empresas têm uma fatia tão grande das vendas de um produto que conseguem, sozinhas, estabelecer os preços --isso que é a concentração de mercado.
Empresas querem ter lucros
Segundo uma reportagem do "New York Times" sobre "greedflation", há um consenso de que muitas empresas aumentaram os preços de seus produtos além das altas de seus próprios custos (isso é especialmente evidente em setores como o de transporte marítimo, mas o jornal também cita alta de preços de passagens aéreas nos EUA). A discussão entre os economistas é pelas causas e efeitos disso.
Nelson Marconi, professor da FGV, afirma que a concentração de mercado é apontada na literatura econômica como um fator que torna a inflação mais persistente.
Marconi aponta outros motivos para a alta da inflação nos EUA, mas diz que a ideia de "greedflation" faz algum sentido. As empresas testam o mercado e, se descobrem que o mercado aceita um preço mais alto, vão buscar elevar os preços, segundo ele.
"Se uma empresa tem condição aumentar margem (de lucro), vai fazer isso, e nós vemos vários mercados que estão se concentrando cada vez mais no mundo. Mas esse é somente um dos motivos que explicam o processo inflacionário, e há várias outros", afirma o professor.
Crítica da Economist
O conceito é bastante criticado --a revista “The Economist” publicou um artigo intitulado “A ideia de greedflation é uma bobagem”. Segundo a revista, a inflação atual nos países ricos é resultado de erros na política econômica e da guerra, e não da ganância corporativa. É natural que as empresas busquem maximizar seus lucros, e culpá-las pelo aumento dos preços seria misturar causa e efeito, de acordo com a publicação.
Para a “The Economist”, a inflação é alta por outros dois fatores:
- Há muito dinheiro em circulação porque houve muitos programas de estímulo econômico (algo que remete à teoria quantitativa da moeda).
- Houve queda de demanda pela pandemia seguida de interrupções na cadeia de suprimentos (ou seja, mudanças muito drásticas em demanda e oferta em um intervalo curto de tempo).
O professor Luiz Roberto Cunha, da PUC do Rio de Janeiro, também cita os fatores que a "Economist" listou como explicações para a inflação nos EUA e na Europa, mas ele diz que algumas altas de preços são, sim, explicadas pela "greedflation". Ele afirma que, na verdade, o que mudou foram as condições que permitiram que isso acontecesse.
Ele aponta uma outra causa: desde o governo Trump, os EUA passaram a priorizar compras de produtos produzidos localmente. Um mercado mais fechado a importações é menos competitivo, e as empresas têm mais poder de mercado para estabelecer preços. "Mesmo antes da pandemia já havia uma redução da globalização", diz Cunha.
Um texto da agência Bloomberg publicado na sexta-feira (14) discute se os modelos de estudos, muito baseados na inflação que ocorreu nos EUA durante os anos 1970, já não são capazes de explicar as altas de preços mais recentes.
A reportagem do "New York Times" cita um pesquisador do Economic Policy Institute que afirma que é importante revisitar a disciplina.
Ainda que o conceito de "greedflation" não seja uma unanimidade, algo mudou: a percepção sobre os conceitos clássicos de inflação, e provavelmente o tema vai ganhar mais espaço nas pesquisas acadêmicas.
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