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sábado, 1 de janeiro de 2022

Economia em 2022: Brasil deve ter mais um ano perdido e flertar com recessão

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Com inflação em alta e juros subindo, projeções para a economia brasileira em 2022 estão cada vez piores. Cenário externo mais desafiador e incerteza com a eleição presencial também minam expectativa de um crescimento mais robusto.
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Por Luiz Guilherme Gerbelli, g1

Postado em 01 de janeiro de 2022 às 19h10m

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Jair Bolsonaro e Paulo Guedes — Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Jair Bolsonaro e Paulo Guedes — Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

O Brasil terá mais um ano perdido na economia em 2022. No cenário mais positivo traçado pelos analistas, a atividade econômica vai ficar estagnada neste ano. Mas o desempenho do país pode ser ainda pior: não há quem descarte uma leve recessão.

No relatório Focus, do Banco Central, as projeções de mais de uma centena de analistas deixam evidente como os números de 2022 estão cada vez piores. Os economistas chegaram a prever um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,5%, mas, agora, enxergam uma alta bem mais modesta, de apenas 0,42%.

0,42


E por que esse cenário se materializou?

  • A piora nas contas do governo com a mudança na regra do teto de gastos provocou uma piora da percepção de risco dos investidores em relação ao país, o que fez com que real perdesse valor em relação ao dólar e contribuísse para o aumento da inflação;
  • A inflação teve início com choques em preços de alimentos, combustíveis e energia elétrica, mas se espalhou por toda a economia e deve encerar 2021 em dois dígitos;
  • A alta de preços obriga o Banco Central a subir a taxa básica de juros (Selic), contribuindo para esfriar a economia;
  • No cenário externo, as principais economias devem começar a subir os juros, o que também contribuiu para a desvalorização do real;
  • Há ainda a incerteza com a eleição presidencial e, portanto, sobre qual será a política econômica adotada pelo país a partir de 2023. Com essa incerteza, decisões de investimentos pelas empresas são postergadas.

Piora das expectativas

As expectativas econômicas para 2022 pioraram depois que o governo decidiu alterar a regra de teto dos gastos por meio da proposta de emenda à Constituição (PEC) dos precatórios como estratégia para abrir espaços para o pagamento Auxílio Brasil, programa social adotado pelo governo Jair Bolsonaro em substituição ao Bolsa Família.

Criado em 2016, o teto de gastos — no seu desenho original — era considerado a principal âncora fiscal do país.

Desde 2014, o Brasil não registra superávit primário, ou seja, não sobra dinheiro nas contas públicas, depois de pagar as despesas, para quitar os juros da dívida do governo. Com isso, o endividamento do Brasil se tornou elevado para uma economia emergente e passou a ser acompanhado de perto pelos investidores.

"O gatilho para as revisões (de crescimento em 2022) tem a ver com toda a flexibilização do arcabouço fiscal, com a PEC dos Precatórios e o drible na lei de responsabilidade fiscal", afirma Alessandra Ribeiro, sócia e economista da consultoria Tendências. "A gente viu efeito disso na percepção de risco e no câmbio, batendo nas expectativas inflacionárias."

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A PEC dos precatórios altera a correção do teto de gastos. A fórmula inicial considerava o IPCA apurado entre julho de um ano e junho do ano seguinte. Com a mudança, a correção passa a levar em conta o IPCA acumulado entre janeiro e dezembro.

A proposta também adia o pagamento de parte dos precatórios. Ao todo, o Ministério da Economia estima que terá um espaço de R$ 106 bilhões no próximo ano.

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Inflação em dois dígitos; juros em alta

Além da desvalorização do real, a inflação brasileira foi afetada por choques que começaram com alimentos, combustível e energia elétrica, mas que acabaram se espalhando por toda a economia.

Em 2021, a inflação surpreendeu sucessivas vezes. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve ter encerrado o ano em dois dígitos, o que não ocorria desde 2015 — a previsão dos analistas é de 10,02%.

Para 2022, os economistas já apostam em um avanço de 5,03%. Se essa projeção se confirmar, será mais um ano marcado pelo estouro do teto da meta do governo.

A inflação em alta fez com o que o Banco Central precisasse endurecesse a sua política monetária. Em 2021, a taxa básica de juros iniciou o ano a 2%, mas subiu até 9,25% conforme a alta de preços se mostrou mais persistente. Para 2022, a expectativa é de novos aumentos. A Selic deve encerrar o ano em 11,50%.

"A política monetária vai ser bastante restritiva. E isso tem forte efeito na demanda doméstica, consumo e investimento são fortemente impactos", diz o economista Lucas Vilela, economista do banco Credit Suisse.

O banco projeta retração de 0,5% do PIB em 2022, IPCA de 6% e prevê que a taxa básica de juros deve chegar a 12,25% ao ano em maio.

"A inflação também traz o seu componente negativo. O poder de compra das pessoas tanto empregadas como desempregadas vai ser impactado", acrescenta Vilela.

A evolução da taxa Selic
Desde 2017, em % ao ano
131312,2512,2511,2511,2510,2510,259,259,258,258,257,57,5776,756,756,56,56,56,56,56,56,56,56,56,5665,55,5554,54,53,753,75332,252,2522222222222,752,753,53,54,254,255,255,256,256,257,757,759,259,25jan/17abr/17jul/17out/17fev/18mai/18ago/18out/18fev/19mai/19jul/19out/19fev/20mai/20ago/20out/20jan/21mai/21ago/21out/2102,557,51012,515
Fonte: Banco Central

Juros em alta encarecem o consumo das famílias e os investimentos das empresas, o que contribui para esfriar a economia e, dessa forma, no controle da inflação.

"Conforme a taxa de juros sobe, a atividade também tende a sofrer", diz Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital. "Não tem o que fazer. É um remédio amargo para controlar a inflação, mas necessário porque é um problema que afeta os mais pobres", diz a economista. Ela projeta que a Selic chegará a 11,75%, e o PIB irá recuar 0,2% este ano.

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Cenário global mais difícil

Nas principais economias, a inflação também tem surpreendido e se mostrado mais disseminada.

Com a retomada da economia, depois de superada a fase mais aguda da pandemia, a cotação das commodities subiu e se somou ao desarranjo nas cadeias de produção — a crise sanitária paralisou ou reduziu a produção em muitos setores industriais. Essa interrupção provocou uma escassez de produtos, pressionando os custos em todo o mundo.

A alta de preços lá fora também obriga os bancos centrais a subirem os juros. E esse movimento faz com que recursos aplicados em mercados emergentes migrem para as economias consideradas mais seguras pelos investidores. Na ponta, isso contribui para uma saída de recursos do Brasil e, consequentemente, se torna mais uma pressão para a desvalorização do real.

"Há uma inflação em aceleração lá fora que pressiona juros externos com duas consequências aqui: inflação maior lá fora contamina nossa inflação via produtos importados, mas também a alta de juros no exterior pressiona nossa taxa de câmbio para depreciação", afirma o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale. "Isso dificulta ainda mais o trabalho do BC, que está sozinho para combater a inflação", acrescenta.

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Nos Estados Unidos, por exemplo, o Federal Reserve (Fed, BC norte-americano) colocou os juros na faixa de 0 a 0,25% ao ano numa tentativa de estimular a economia durante os impactos econômicos provocados pela pandemia de coronavírus.

Com a retomada da economia e lidando com uma inflação que chegou a 6,8% no acumulado de 12 meses até novembro — a maior em 39 anos —, o Fed deve promover três altas de juros em 2022.

Inflação nos EUA nos últimos 12 meses foi a maior em 39 anos
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Incerteza eleitoral

Todo esse quadro se dá num ano de eleição presidencial, o que joga ainda mais incerteza sobre o rumo da política econômica a partir de 2023, seja num governo reeleito do presidente Bolsonaro ou com a vitória de algum candidato da oposição.

Na leitura dos economistas, o Brasil terá de encampar uma série de reformas estruturantes, como a tributária, para acelerar o crescimento, e mostrar compromisso com a situação fiscal do país.

"A gente ainda não sabe quais vão ser as discussões políticas no próximo ano e o que os principais candidatos pensam", afirma Vilela, do Credit Suisse.

As últimas pesquisas eleitorais mostram a liderança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seguido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).

Pesquisa Datafolha aponta que Lula venceria eleição presidencial no 1º turno
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