Entre 2013 e 2020, PIB per capita do do Brasil deve recuar R$ 8.519 para R$ 7.559 e encolher 11,3%, de acordo com dados da consultoria LCA.
Por Luiz Guilherme Gerbelli, G1
02/08/2020 10h07 Atualizado há 1 horas
Postado em 02 de agosto de 2020 às 11h15m
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Em um período de sete anos, o brasileiro caminha para ficar cerca de
10% mais pobre. A recessão observada entre o fim de 2014 e 2016, a lenta
retomada da economia dos anos seguintes e a recente crise provocada
pelo coronavírus fizeram o Brasil perder parte da sua riqueza.
Entre 2013 - último ano de crescimento mais robusto da economia - e o
fim de 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita passará de R$
8.519 para R$ 7.559 e terá encolhido 11,3% no período, de acordo com
cálculos da consultoria LCA.
"A realidade é muito mais triste do que apenas esse dado. Nesse período, a média de crescimento do mundo foi de 4% ao ano", diz o economista da LCA Cosmo Donato. "É preciso levar em conta também o que o país deixou de crescer, sobretudo na comparação com os emergentes. O buraco é mais embaixo."
O PIB per capital é a soma de tudo o que país produz dividido pela
população e funciona como um importante termômetro para avaliar a
riqueza de uma nação. Ele sobe quando a atividade econômica avança num
ritmo mais rápido do que o crescimento populacional. O levantamento da
LCA leva em conta estimativas para o PIB trimestral e utiliza a média
móvel de quatro trimestres, o que permite uma comparação mais justa.
Nos últimos anos, a economia brasileira enfrentou uma combinação de
muita dificuldade. Entre o fim de 2014 e 2016, o país observou uma forte
recessão causada por vários desequilíbrios macroeconômicos e pela
turbulência política durante o governo Dilma Rousseff. Nos três anos
seguintes, houve apenas uma tímida retomada, incapaz de apagar todos os
estragos. Agora, a crise provocada pelo coronavírus se tornou mais um
componente desse período conturbado.
Em 2020, os analistas consultados pelo relatório Focus, do Banco Central, estimam uma queda do PIB de 5,77%.
"A crise de 2015 e 2016 foi bastante profunda. Houve uma retração do PIB de 7% e só recuperamos metade disso mais ou menos", diz o sócio e economista da Kairós Capital, André Loes. "O final do ano passado prometia uma aceleração para este ano, talvez o país fosse crescer entre 2% e 2,5%, mas aí veio pandemia", afirma.
Previsão para o PIB melhora, mas ainda é de queda
Mobilidade interrompida
O empobrecimento do Brasil também fica evidente quando se analisa o
comportamento socioeconômico do país. Depois de ver o "boom" da chamada
classe C no final da década passada e no início desta, o país tem
registrado uma leve piora da mobilidade social nos últimos anos, de
acordo com um levantamento feito pela Kantar.
Em 2014, 27,5% dos lares brasileiros integravam a classe A e B. Ao fim
deste ano, esse grupo deve recuar para 26,3%. Nesse período, a classe E
vai passar de 24,7% para 25,2% dos lares.
"No passado, muitas pessoas da classe D e E migraram para a classe C. Desde 2016, não existe mais esse movimento", diz o diretor de serviço ao cliente e novos negócios da Kantar, David Fiss. "E o que a gente começa a ver neste ano, como efeito da crise, é uma perda de importância de classe A/B e C e um crescimento da classe D/E."
Melhora interrompida — Foto: Economia G1
Desemprego em alta
O desemprego tem sido uma das consequências mais perversas do
desempenho ruim da economia e ajuda a explicar o empobrecimento do país.
No ano passado, o mercado de trabalho até apresentou um esboço de
melhora, mas muito calcado na informalidade. A crise provocada pelo
coronavírus, no entanto, abortou qualquer expectativa de retomada. Em
maio, a taxa de desocupação ficou em 12,9%. E a expectativa é que os números piorem ao longo dos próximos meses.
Demitido há seis meses, o vigilante Wesley dos Santos Lima, de 29 anos,
encara o desemprego pela segunda vez em pouco tempo - entre 2016 e 2017
também ficou sem trabalhar por sete meses. "A gente é aquele tipo de
pessoa que tem de trabalhar ou fazer um bico para ter alguma coisa
melhor na nossa casa", diz.
Casado e com um filho de cinco anos, Wesley também viu a esposa perder o
trabalho por causa da pandemia. Sem a renda do trabalho, a família teve
de cortar itens supérfluos para ajustar seu orçamento. "Não temos
contas atrasadas, damos prioridade para este pagamento" afirma. "Mas
fizemos alguns cortes do que compramos e também no lazer."
Wesley viveu quatro meses com recursos do seguro-desemprego e agora
tenta uma recolocação num momento de bastante dificuldade da economia.
"Há alguns anos eu via mais potencial de trabalho, principalmente na
área de segurança. Mas agora, com a pandemia, está mais complicado."
Agenda de curto e longo prazo
Um enriquecimento do Brasil exige uma agenda de curto e longo prazo.
No curto prazo, os analistas indicam que o país tem de mostrar,
sobretudo, um comprometimento com a parte fiscal para evitar uma
desconfiança dos investidores.
Com a pandemia, o governo teve de aumentar os gastos para mitigar os
efeitos da crise, o que vai elevar o endividamento do Brasil. Segundo
analistas, será preciso retomar as medidas de ajustes depois que a
pandemia for superada – o país já entrou nessa crise com um nível de
endividamento bastante elevado para um país em desenvolvimento.
"O país tem de passar rapidamente para o modo austeridade", diz Loes.
"O Brasil tinha começado a debelar o crescimento da dívida, mas ela vai
subir para algo como 97% do PIB este ano", afirma. Em 2019, a dívida
bruta do Brasil correspondeu a 75,8% do PIB.
No médio e longo prazo, a agenda do Brasil passa por medidas que
envolvam a melhora da produtividade para permitir um maior crescimento
potencial da economia.
São necessárias, portanto, medidas que facilitem o ambiente de negócios
com o objetivo de melhorar o quadro de investimentos, por exemplo, e
investir na educação para ter uma mão de obra mais qualificada.
"Medidas que facilitem o investimento vão fazer que esse mesmo trabalhador mais bem treinado, com melhor educação, produza mais, e o nosso PIB per capita vai crescer", afirma Loes.-----++-====------------------------------------------------------------------------=================---------------------------------------------------------------------------------====-++------
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