Decisão marca o nono corte seguido na taxa básica de juros. Com essa redução, taxa renova mínima histórica.
Por Laís Lis, G1 — Brasília
05/08/2020 18h33 Atualizado há 2 horas
Postado em 05 de agosto de 2020 às 20h40m
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Copom reduz taxa básica de juros da economia brasileira para 2% ao ano
O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu nesta quarta-feira (5) reduzir a taxa básica de juros da economia brasileira de 2,25% para 2%. Esse foi o nono corte seguido na Selic. A decisão foi unânime.
O corte renovou o menor patamar histórico para a taxa Selic desde 1999, quando entrou em vigor o regime de metas para a inflação.
A redução na Selic seguiu a expectativa de analistas do mercado financeiro. Para eles, essa decisão encerra o ciclo de cortes iniciado em agosto de 2019.
Em nota, o comitê informou que entende que a conjuntura econômica
continua demandando estímulo monetário “extraordinariamente elevado”,
mas reconheceu que, “devido a questões prudenciais e de estabilidade
financeira, o espaço remanescente para utilização da política monetária,
se houver, deve ser pequeno”.
Segundo o Copom, eventuais ajustes futuros no estímulo monetário dependerão da percepção sobre a trajetória fiscal.
“O Copom avalia que perseverar no processo de reformas e ajustes
necessários na economia brasileira é essencial para permitir a
recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que
questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de
caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem
elevar a taxa de juros estrutural da economia”, informa o comunicado.
Cenário econômico
Ao reduzir a taxa Selic, o BC estimula o nível de atividade. Isso
ocorre em um momento de forte contração do PIB mundial, em razão da
pandemia do novo coronavírus. Nas últimas semanas, indicadores apontaram
para um princípio de recuperação da economia no Brasil.
Em julho, o governo brasileiro manteve sua previsão para o tombo do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano em 4,7%, enquanto os economistas do mercado financeiro vêm melhorando recentemente suas estimativas. Na semana passada, previram uma queda de 5,66% para a economia neste ano.
Com a forte queda da atividade econômica, a variação dos preços tem
sido baixa. Em junho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA) registrou inflação de 0,26%, após dois meses de deflação. Já em doze meses até junho, o índice subiu 2,13%.
O Banco Central fixa a taxa básica de juros, a Selic, com base no sistema de metas de inflação.
Para este ano, a meta central é de 4%. Pela regra vigente, o IPCA pode
oscilar de 2,5% a 5,5% sem que a meta seja formalmente descumprida. Para
2021, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente
cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%.
O mercado financeiro prevê que o IPCA ficará em 1,63% neste ano, isto
é, abaixo do piso de 2,5% previsto pelo sistema de metas, e em 3% no ano
que vem, abaixo da meta central mas dentro da banda permitida.
Em análise assinada pelo seu economista-chefe, Mario Mesquita, o banco
Itaú avaliou que o BC deve reduzir os juros para 2% ao ano nesta
quarta-feira por conta, principalmente, de "dados recentes de inflação,
que foram mais benignos do que o esperado".
"O comitê [de Política Monetária do BC] deve continuar ressaltando que
estamos diante de um ambiente particularmente incerto. Se, por um lado,
os programas de estímulo creditício e de recomposição de renda podem
mitigar a recessão, por outro, se continuarmos observando pressões
desinflacionárias adicionais, isto implicará em uma tendência de redução
das projeções de inflação", acrescentou.
Efeitos do corte de juros
- Operações de crédito: ao baixar o juro básico, o BC estimula redução dos juros bancários e alta no crédito. No primeiro semestre, os bancos repassaram o corte do juro básico para suas linhas de crédito e os empréstimos subiram (também influenciados pelas linhas emergenciais do governo, para combater a pandemia do novo coronavírus).
- Investimentos: uma eventual nova redução da Selic também afetará aplicações financeiras como a caderneta de poupança e os investimentos em renda fixa. Se o juro básico da economia recuar para 2% ao ano nesta semana, a correção da poupança seria de 70% desse valor – o equivalente a 1,4% ao ano, mais a Taxa Referencial.
- Gastos com juros: em um momento de forte alta da dívida pública, por conta de gastos extraordinários com o combate à pandemia e reflexos do tombo da atividade na arrecadação federal, o processo de corte da taxa Selic diminui os gastos do governo com os juros da dívida pública, impedindo uma alta maior no endividamento.
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