Depressão não está no cenário base de bancos e consultorias, mas quadro da atividade pode se agravar se o Brasil não conseguir reabrir a economia com segurança na saúde e, depois de superada a pandemia, retomar o controle das contas públicas.
Por Luiz Guilherme Gerbelli
09/07/2020 06h00 Atualizado há 05 horas
Postado em 09 de julho de 2020 às 11h00m
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Já é dado como certo, nas projeções dos analistas, que a recessão enfrentada pelo Brasil em 2020 será a pior dos últimos 120 anos - pelo menos.
Mas esse quadro pode se agravar mais. Uma eventual sinalização de que
as contas públicas vão piorar de forma consistente, aliada à dificuldade
do país em promover a reabertura segura da economia, sem controlar o
coronavírus, têm força para levar a atividade econômica para um cenário
de depressão.
Por ora, a depressão econômica não está no cenário base de boa parte dos economistas - os dados até mostram que o fundo do poço já ficou para trás,
apesar do cenário de grande incerteza. Mas um quadro de mais gravidade
para a economia brasileira segue no radar de parte de bancos e
consultorias.
Entenda a diferença:
- A depressão econômica é caracterizada pela forte queda do Produto Interno Bruto (PIB) sem que haja uma retomada consistente nos anos seguintes.
- Em cenários de recessão, depois da retração da atividade, a economia consegue se recuperar com mais facilidade, ainda que de forma gradual.
Com a crise provocada pelo coronavírus, o governo teve de ampliar
fortemente os gastos públicos para mitigar os efeitos da pandemia no
orçamento de empresas e famílias. Superada a crise sanitária, a piora
das contas públicas terá de ser revertida, segundo analistas, para que o
país não entre numa depressão.
A crise fiscal brasileira se agravou em 2014 e, desde então, o Brasil
acumula déficits primários e tem buscado realizar um ajuste fiscal. O
resultado é que o Brasil se tornou uma país de elevado endividamento
para uma economia ainda emergente, o que sempre provocou a desconfiança
dos investidores.
Nos últimos anos, o país conseguiu aprovar algumas medidas que ajudam no controle das despesas, como teto dos gastos e a reforma da Previdência. Mas os gastos realizados pelo governo para mitigar os efeitos da pandemia vão elevar o endividamento do país - a dívida bruta do Brasil deve chegar a 98,2% do PIB no final de 2020.
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"A nossa maior preocupação é se o Brasil começar a brincar com o fiscal. E como seria isso? Se o país flexibilizar o teto de gastos, o que se traduziria em aumento mais expressivo da dívida”, diz a economista e sócia da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro.
No cenário-base da Tendências, o país deve colher uma recessão de 7,3%
neste ano e um crescimento de 3,4% em 2021 e 2,1% em 2022.
O cenário pessimista da consultoria, no entanto, que prevê um quadro de
depressão, tem uma probabilidade de 40% de se materializar. Nesse
cenário, o país abandonará o ajuste fiscal, o teto de gasto será
revisto, e o PIB vai despencar 10% neste ano, com um crescimento de
apenas 2,5% em 2021 e 1,8% em 2022.
"É um quadro em que a economia cai e praticamente fica lá, volta muito pouco. Aí, é um cenário de depressão", diz Alessandra.
Para dar conta de resolver a parte fiscal, o governo vai precisar de
apoio político no Congresso para conseguir aprovar matérias importantes
como, por exemplo, a PEC Emergencial
e a reforma administrativa - duas medidas que podem ajudar na
continuidade do ajuste das contas. "Sem o fiscal em ordem, no sentido de
adotar regras mais duras, o país vai postergar esse cenário de
atividade economia muito deprimida", diz Alessandra.
Uma piora fiscal prolongada pode criar um ambiente de insegurança entre
os investidores, o que tende a provocar uma fuga de capitais do Brasil.
O país pode ser obrigado a subir a taxa básica de juros - hoje em 2,25% ao ano
- para conter a saída de recursos estrangeiros, o que vai encarecer o
custo do crédito para empresas e consumidores e, consequentemente,
emperrar a recuperação econômica.
Segunda onda
O outro risco de o Brasil flertar com a depressão econômica é com uma
eventual segunda onda do coronavírus, o que pode levar a um novo
fechamento das economias para impor as medidas de isolamento social,
consideradas fundamentais para o controle da doença.
Por ora, as projeções para a atividade econômica não contemplam uma
segunda onda da doença. Se ela ocorrer, as expectativas para a economia
podem se tornar ainda piores.
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"Tem um risco que a gente discute bastante, de uma segunda onda", afirma o economista-chefe do BNP Paribas, Gustavo Arruda. "Com as economias reabrindo, as pessoas começam a relaxar, a usar menos máscara, e daqui a três meses, quando inverno voltar na Europa, a gente começa a ver uma escalada de casos, e a economia global tem de fechar de novo.”
Uma eventual segunda onda, segundo o BNP, pode levar o PIB brasileiro a despencar 10% - a previsão atual é de uma queda de 7%.
Nesse cenário mais pessimista do BNP, haveria uma piora da atividade
econômica no fim deste ano, o que também inviabilizaria uma retomada
futura. Dessa forma, em 2021 haveria um novo ano de recessão, com queda
de 2% do PIB. "Isso dá para gente chamar de depressão", diz Arruda.
Brasil com dificuldade e fragilizado
O Brasil foi atingido pela crise provocada pelo coronavírus com uma
economia já bastante fragilizada e também dá sinais de que enfrenta
dificuldade para vencer a pandemia.
Depois de encerrada a recessão de 2016, a economia brasileira
apresentou taxa de expansão média anualizada de apenas 1,7% entre
janeiro de 2017 e dezembro de 2019, de acordo com o Comitê de Datação de
Ciclos Econômicos (Codace), da Fundação Getulio Vargas.
Foi, segundo o órgão, o ritmo mais baixo de expansão da economia brasileira depois de um período recessivo.
Antes disso, o pior ciclo de crescimento pós-recessão foi registrado
entre o quatro trimestre de 2015 e o quarto trimestre de 2017, quanto a
taxa média do PIB foi de alta de alta de 3,5%.
"O Brasil já estava com um desempenho pífio", afirma o professor do Insper e integrante do Codace, Marco Bonomo. Em junho, o Codace avaliou a economia brasileira como estando em recessão.
Para além de retomar a atividade, segundo Bonomo, o Brasil precisa
transmitir uma confiança de que a doença está controlada para que seja
possível reabrir a economia. O país já registra mais de 66 mil óbitos.
"Eu acho que a gente que vai demorar mais para sair da recessão do que poderia", afirma Bonomo. "Isso se dará, em primeiro lugar, pela gestão de gestão da saúde. Sem a saúde estar resolvida, você não consegue resolver a atividade econômica."-----++-====-----------------------------------------------------------------------=================---------------------------------------------------------------------------------====-++------
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