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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Ibovespa cai 4,79% e tem o pior mês de janeiro desde 2016; entenda os 5 principais motivos

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Especialistas ouvidos pelo g1 explicam que o desempenho negativo é uma junção de fatores macroeconômicos — como as incertezas sobre os juros nos EUA e a economia mais fraca da China — com o momento de queda de ações de peso no índice, como a Vale.
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Por Bruna Miato, g1

Postado em 01 de fevereiro de 2024 às 15h30m

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 Ibovespa tem o pior mês de janeiro desde 2016 — Foto: KEVIN DAVID/A7 PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Ibovespa tem o pior mês de janeiro desde 2016 — Foto: KEVIN DAVID/A7 PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, até tentou uma recuperação no último pregão de janeiro, com alta de 0,28% no dia. Mas o acumulado registrou o mês mais fraco do indicador desde agosto (quando caiu 5,09%) e o pior janeiro desde 2016 (queda de 6,79%).

A bolsa registrou uma queda de 4,79% no primeiro mês de 2024, segundo levantamento antecipado ao g1 por Einar Rivero, CEO da Elos Ayta Consultoria. O ano começa em direção oposta ao final de 2023, quando o Ibovespa registrou uma sequência de recordes e encerrou o mês com valorização de 5,38%.

Parte da queda observada em janeiro pode, inclusive, ser explicada pelo fim do famoso "rali de fim de ano", quando os investidores correm para aproveitar as boas oportunidades do mercado de ações e impulsionam o preço dos papéis. Mas uma série de fatores contribuíram para o desempenho negativo no mês.

Do lado macroeconômico, especialistas ouvidos pelo g1 pontuam:

  1. 🏦 As incertezas em relação à redução dos juros nos EUA;
  2. 💸 Preocupação com o cenário fiscal brasileiro;
  3. 🎢 A dificuldade da China em continuar crescendo.

Já pela visão microeconômica, cabe destacar:

  1. 📉 A desvalorização acentuada das ações de commodities, como a Vale;
  2. ✈️ O pedido de recuperação judicial da Gol.
Veja mais detalhes a seguir.
Juros nos Estados Unidos

Parece notícia repetida, mas não é. Há meses o mercado financeiro discute qual será o patamar ideal dos juros nos Estados Unidos, e a expectativa é de que a questão permaneça como assunto central até meados do ano.

Bruno Benassi, especialista em ações na Monte Bravo Corretora, explica que alguns dados da economia norte-americana reduziram as expectativas de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) possa iniciar seu ciclo de cortes de juros em março.

O relatório de emprego "payroll", por exemplo, registrou a abertura de 216 mil novas vagas de emprego em dezembro, bastante acima das expectativas dos analistas. Um mercado de trabalho muito aquecido pode continuar gerando aumento de salários e pressão inflacionária sobre a economia.

Benassi destaca que boa parte dos analistas deixou de lado as projeções de corte em março e estimam, agora, que a redução dos juros deve ter início apenas em maio. A mudança de perspectiva e juros mais altos nos EUA por mais tempo faz com que investidores internacionais reduzam ou atrasem suas aplicações em ativos de risco, como o mercado de ações.

A aposta, portanto, se concentra nos títulos públicos americanos, as Treasuries. Enquanto esses títulos tiveram acumularam altas em janeiro, os investidores estrangeiros tiraram cerca de R$ 5 bilhões da bolsa brasileira em 2024.

A economista Ariane Benedito, especialista em mercados de capitais e RI da Esh Capital, destaca que movimento semelhante de aversão a risco aconteceu em fevereiro e agosto de 2023. Em fevereiro, o BC americano elevou suas taxas e sinalizou cautela com a economia do país. O mesmo em agosto.

Foram justamente esses os meses de 2023 com as maiores queda do Ibovespa: 7,49% em fevereiro e 5,09% em agosto, segundo levantamento de Einar Rivero.

Contas do Governo Federal fecham 2023 com rombo de mais de R$ 230 bilhões

Cenário fiscal brasileiro

Para Ariane, a agenda fiscal brasileira, dominada pela preocupação com as contas públicas, será o "principal item de volatilidade ao longo deste ano". A economista destaca que o mercado já começou o ano com preocupações de aumento de gasto público por meio do programa Nova Indústria Brasil anunciado pelo Governo Federal, que prevê R$ 300 bilhões em investimentos para o setor industrial até 2026.

A dúvida sobre quais serão as fontes de financiamento para o programa causaram reação do mercado, em especial depois da notícia de que a União encerrou o ano de 2023 com um déficit primário de R$ 230 bilhões nas contas, o pior resultado desde 2020.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reafirmou que o rombo é fruto da decisão do governo federal de quitar os precatórios que foram "empurrados" pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro para este ano, e que o impacto é temporário nas contas.

Foram mais de R$ 90 bilhões desembolsados somente em precatórios ao final de 2023. O ministro também garantiu que perseguirá a meta de zerar o déficit fiscal neste ano, apesar da desconfiança do mercado financeiro.

Crescimento fraco na China

Entre os aspectos da economia internacional, a economista Ariane Benedito destaca a preocupação global com o crescimento da China. O país asiático cresceu 5,2% no ano passado, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas, mas o número veio abaixo do padrão pré-pandemia.

O Banco Central chinês anunciou na última semana que vai diminuir o compulsório de bancos, como forma de estimular a economia. Trata-se de um dinheiro de reserva, que fica congelado para garantir a sustentabilidade do sistema financeiro do país.

A redução será de 0,5 ponto percentual e deve valer a partir de 5 de fevereiro. Serão liberados quase US$ 140 bilhões (cerca de R$ 688 bilhões) para o mercado.

As dificuldades de manter o crescimento refletem diretamente nos países que têm a China como parceiro comercial importante, que é o caso do Brasil. Crescendo menos, o país reduz a demanda de parceiros comerciais, o que impacta exportações de empresas brasileiras.

Ariane pontua que o setor que mais gera preocupação na China é o imobiliário e uma notícia do começo desta semana ajudou a piorar as expectativas: a construtora Evergrande, uma gigante do setor, teve sua falência decretada pela justiça de Hong Kong na última segunda-feira (29), depois de dois anos tentando renegociar uma dívida estimada em mais de US$ 300 bilhões.

Situações como essa afetam o preço do minério de ferro, já que o setor imobiliário chinês é um dos maiores demandantes da commodity no mundo. Na esteira, sofrem os papéis das empresas exportadoras. No Brasil, entram na conta a CSN, a Gerdau e a Vale, empresa de maior peso do índice Ibovespa.

Justiça Federal condena Vale, BHP e Samarco a indenização de R$ 47,6 bilhões pelo rompimento da Barragem de Fundão

Queda livre da Vale

Sozinha, a Vale representa mais de 13% de toda a carteira do Ibovespa. Qualquer grande oscilação no preço de suas ações traz impacto para cima ou para baixo de todo o resultado do índice. Em janeiro, a mineradora despencou mais de 10%, conforme levantamento de Einar Rivero.

E a queda não está ligada exclusivamente ao momento ruim do setor imobiliário chinês e do minério de ferro. Bruno Benassi, da Monte Bravo, que as especulações sobre a troca de comando da companhia e a multa bilionária que foi aplicada à empresa por conta do desastre de Mariana (MG) também influenciaram.

Notícias dos bastidores de Brasília trouxeram a informação de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretendia indicar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega ao cargo de diretor-presidente da empresa, o que desagradou acionistas e provocou um mergulho nas ações da companhia.

Segundo o blog do Valdo Cruz, Lula desistiu de Mantega, mas não queria abrir mão de indicar alguém ao cargo. No entanto, o governo está sendo aconselhado a não fazer qualquer nova tentativa de interferência na mineradora.

Sobre o desastre de Mariana, a Justiça de condenou a Vale, Samarco e BHP ao pagamento de multas de mais de R$ 47 bilhões pelos impactos ambientais causados pelo rompimento das barragens em 2015.

Gol em recuperação judicial

Por fim, os especialistas concordam que não dá para falar dos principais impactos no Ibovespa em janeiro sem comentar sobre a atual situação da Gol. A companhia aérea entrou com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos para reestruturar suas operações financeiras.

Por conta do processo, a empresa foi excluída do Ibovespa e outros índices na última terça-feira (30), mas a situação contribuiu para a desvalorização da bolsa nos últimos dias, comenta Bruno Benassi.

Os papéis da empresa despencaram quase 70% em janeiro, sendo uma baixa de 27% somente na terça-feira (30).

Além da Gol, o especialista da Monte Bravo também aponta a Hapvida Notredame, maior empresa de planos de saúde do Brasil, como um dos destaques negativos do mês.

A companhia está sendo investigada pelo Ministério Público de São Paulo sob suspeita de deixar de cumprir liminares para o fornecimento de medicamentos e tratamentos. As ações da Hapvida caíram cerca de 10% em janeiro.

"Apesar de não terem tanta relevância na composição do Ibovespa, são papéis que estão caindo bastante e acabam prejudicando o índice", pontua Benassi.
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