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quinta-feira, 31 de março de 2022

Petrobras em números: veja evolução do lucro, produção, dividendos, nº de funcionários e valor de mercado

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Estatal registrou lucro recorde em 2021 e distribuiu valor bilionário em dividendos para acionistas. Produção e número de empregados caiu no ano passado, enquanto investimentos e uso da capacidade das refinarias tiveram leve alta.
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Por Darlan Alvarenga, g1

Postado em 31 de março de 2022 às 09h10m

Post. N. =  0.453

Fachada do prédio da Petrobras, no Centro do Rio — Foto: Adriano Ishibashi/Framephoto/Estadão Conteúdo
Fachada do prédio da Petrobras, no Centro do Rio — Foto: Adriano Ishibashi/Framephoto/Estadão Conteúdo

Em meio à disparada nos preços dos combustíveis, a Petrobras registrou um lucro recorde em 2021 e também distribuiu aos acionistas um valor bilionário em dividendos. Os indicadores da estatal mostram também que a produção de óleo e gás caiu no ano passado, enquanto que o uso da capacidade das refinarias e os investimentos tiveram leve alta. Já o número de funcionários manteve a trajetória de enxugamento.

Prestes a completar 1 ano à frente da Petrobras, o general da reserva Joaquim Silva e Luna foi demitido da cadeira a pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL). Para a vaga, o governo decidiu indicar Adriano Pires, fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). A mudança precisa ser confirmada pela assembleia-geral dos acionistas da estatal, marcada para 13 de abril.

Veja abaixo a evolução dos principais números financeiros e indicadores de produção da Petrobras:

Valor de mercado

Evolução do valor de mercado na Bolsa — Foto: Economia g1
Evolução do valor de mercado na Bolsa — Foto: Economia g1

O valor de mercado da Petrobras atingiu R$ 437,7 bilhões no fechamento do 29 de março, após o anúncio oficial da mudança na presidência da companhia, de acordo com dados da provedora de informações financeiras Economatica.

As ações da Petrobras acumulam alta de quase 15% em 2022, após terem saltado mais de 30% em 2021, na esteira da elevação dos preços internacionais do petróleo.

No início do governo Bolsonaro, a petroleira valia na bolsa R$ 316 bilhões. Em maio de 2008, porém, chegou a valer R$ 510 bilhões.

A Petrobras é atualmente a segunda companhia brasileira de maior valor de mercado na B3, atrás da Vale, que no fechamento do dia 20 estava avaliada na bolsa em R$ 457,4 bilhões, segundo dados da Economatica.

Quem é Adriano Pires e o que ele já disse sobre a Petrobras
Quem é Adriano Pires e o que ele já disse sobre a Petrobras

Lucro

Evolução do lucro anual da Petrobras — Foto: Economia g1
Evolução do lucro anual da Petrobras — Foto: Economia g1

O lucro líquido recorde de R$ 106,6 bilhões da Petrobras em 2021 foi o maior já registrado por empresas de capital aberto no Brasil, superando recorde anterior de 2019, que também era da petroleira (R$ 40,1 bilhões, em valores nominais).

Já a receita líquida da Petrobras atingiu R$ 452,7 bilhões em 2021, com um salto de 66% frente ao ano anterior.

Dividendos

Valor distribuído em dividendos para acionistas — Foto: Economia g1
Valor distribuído em dividendos para acionistas — Foto: Economia g1

A Petrobras distribuiu em 2021 aos seus acionistas o valor recorde de R$ 72,7 bilhões em dividendos. Até então, o maior valor pago pela companhia tinha sido o registrado 2009, quando foram distribuídos R$ 15,4 bilhões, segundo a Economatica.

Importante lembrar que o governo federal é o maior acionista da Petrobras. A União detém 36,6% do capital total da companhia.

A alta do preço dos combustíveis 'engordou' os cofres da União em 2021. Além do valor repassado aos cofres públicos em dividendos, a Petrobras pagou no ano passado R$ 54,5 bilhões em royalties do petróleo e participações especiais, o maior valor anual já pago pela companhia.

Produção

Produção total de óleo e gás — Foto: Economia g1
Produção total de óleo e gás — Foto: Economia g1

A produção total de óleo e gás da Petrobras caiu 2,2% em 2021, na comparação com 2020.

Para 2022, a companhia projeta uma produção na faixa entre 2,6 e 2,7 milhões de barris de óleo equivalente por dia, com meta de chegar a 3,2 milhões de barris/dia em 2026, com o pré-sal respondendo por 79% do volume total.

"A curva de produção de óleo e gás estimada no período 2022-2026 indica uma trajetória de crescimento contínuo focado no desenvolvimento de projetos que geram valor", informou a Petrobras em seu último relatório de administração, citando previsão de entrada em operação de 15 novos sistemas de produção, todos alocados em projetos em águas profundas e ultraprofundas.

Refinarias

Uso da capacidade de produção das refinarias — Foto: Economia g1
Uso da capacidade de produção das refinarias — Foto: Economia g1

O volume da produção de derivados nas refinarias da Petrobras teve alta de 1,3%, na comparação com 2020. Já o uso da capacidade das refinarias atingiu 81% em 2021, contra 79% no ano anterior.

A Petrobras informou que em fevereiro o fator de utilização total de suas refinarias chegou próximo a 90%.

A participação do petróleo nacional no processo de refino representou 92% do processamento feito nas unidades da Petrobras no país em 2021.

Segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP), a participação do petróleo importado no processo de refino brasileiro é atualmente de 6%.

"A presença do produto nacional poderia chegar a até 100%, atendendo às necessidades de derivados do país. Isso só não ocorre porque algumas refinarias utilizam o óleo importado, não por insuficiência da produção ou da oferta nacional, mas como opção para otimizar processo industrial", afirmou a entidade, em nota divulgada neste mês, na qual critica a atual política de preços da Petrobras.

Apesar de ser produtor, Brasil precisa importar petróleoApesar de ser produtor, Brasil precisa importar petróleo

Investimentos
Evolução do investimentos da Petrobras — Foto: Economia g1
Evolução do investimentos da Petrobras — Foto: Economia g1

Em 2021, os investimentos da empresa totalizaram US$ 8,8 bilhões, uma alta de 9% em relação a 2020, mas bem abaixo dos US$ 27 bilhões de 2019.

O plano estratégico anunciado em novembro pela Petrobras prevê US$ 68 bilhões em investimentos entre 2022 e 2026, o que representa um aumento de 23,6% em relação ao plano de negócios plurianual anterior. O montante, porém, segue menor que os US$ 84 bilhões anunciados para o período de 2019 a 2023.

A Petrobras também pretende realizar desinvestimentos (venda de ativos) entre entre US$ 15 bilhões e US$ 25 bilhões até 2026.

Segundo relatório da companhia, entre janeiro de 2021 até fevereiro de 2022, a Petrobras levantou US$ 5,6 bilhões com a venda de 21 ativos, incluindo a Refinaria Landulpho Alves (RLAM), na Bahia, a BR Distribuidora e de 10% da NTS, o que também contribuiu para impulsionar o lucro recorde de 2021.

Levantamento divulgado em dezembro pelo Observatório Social da Petrobrás (OSP) mostrou que desde 2015, já foram vendidos mais de 60 ativos, subsidiárias e participações acionárias da estatal, somando um montante de mais de R$ 243 bilhões.

Nos últimos anos, a direção da empresa tem justificado as "privatizações" dizendo que a política de desinvestimentos tem o objetivo de reduzir o endividamento da empresa e maximizar o valor para o acionista.

Dívida

Evolução da dívida bruta — Foto: Economia g1
Evolução da dívida bruta — Foto: Economia g1

Ao final de 2021, a dívida bruta da companhia alcançou R$ 327,8 bilhões, contra R$ 392,5 bilhões em 2020, com a companhia cumprindo antecipadamente a meta de redução do endividamento para o patamar de US$ 60 bilhões estabelecida originalmente para 2022.

No 3º trimestre de 2015, a dívida bruta da Petrobras atingiu no 3º trimestre de 2015 o nível recorde de R$ 506,5 bilhões, o que levou a companhia a ganhar o título de petroleira mais endividada do mundo.

Trabalhadores

Evolução do quadro de empregados da Petrobras — Foto: Economia g1
Evolução do quadro de empregados da Petrobras — Foto: Economia g1

Em meio à venda de ativos e à saída da Petrobras de vários negócios, o quadro de funcionários continuou encolhendo em 2021.

A estatal encerrou 2021 com 45.532 empregados, uma redução de 7,2% em relação ao ano de 2020, sendo 7.692 mulheres (17%) e 37.840 homens (83%). Em 2018, eram mais de 63 mil funcionários.

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terça-feira, 29 de março de 2022

Bovespa volta aos 120 mil pontos de olho na Petrobras e na Ucrânia

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Na segunda-feira, o principal índice da bolsa caiu 0,29%, a 118.738 pontos.
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Por g1

Postado em 29 de março de 2022 às 10h20m

Post. N. =  0.452

O Ibovespa, principal índice de ações da bolsa de valores de São Paulo, a B3, opera em alta nesta terça-feira (29), de olho no anúncio da troca de comando na Petrobras e nos avanços nas negociações entre Rússia e Ucrânia, que ajudam a derrubar os preços internacionais do petróleo.

Às 15h29, o Ibovespa subia 1,10%, a 120.058 pontos. Veja mais cotações.

Perto do mesmo horário, as ações da Petrobras tinham alta de 0,73%.

Na segunda-feira, a bolsa fechou em queda de 0,29%, a 118.738 pontos. Com o resultado, a bolsa acumulou alta de de 4,95% no mês e de 13,28% no ano.

Mudança na Petrobras não significa queda de preços; Miriam Leitão analisaMudança na Petrobras não significa queda de preços; Miriam Leitão analisa

O que está mexendo com os mercados?

Por aqui, os mercados avaliam o anúncio da troca de comando na Petrobras. Na noite de segunda-feira, o presidente Jair Bolsonaro decidiu demitir o atual presidente, Joaquim Silva e Luna, em meio à disparada dos preços dos combustíveis, impulsionada pelo conflito na Ucrânia e pelas sanções à Rússia.

O indicado para assumir o cargo é o economista Adriano Pires, fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). A mudança, no entanto, precisa ser confirmada pela assembleia geral dos acionistas da empresa, marcada para 13 de abril.

No exterior, os preços do petróleo operam em queda nesta terça-feira, com os investidores avaliando positivamente a nova rodada de negociações diretas entre Ucrânia e Rússia.

A Rússia prometeu reduzir suas operações militares em Kiev e na cidade de Chernihiv, no norte da Ucrânia, enquanto a Ucrânia propôs adotar a neutralidade, status sob o qual seu país não se juntaria a alianças militares, como a Otan, nem hospedaria bases militares em seu território.

Negociadores de ambos os lados se reúnem em Istambul pela primeira vez para discussões presenciais em quase três semanas, com a Ucrânia buscando um cessar-fogo sem ceder em questões territoriais e de soberania.

Adriano Pires tem propostas para ‘atenuar subida de preços’ do petróleo, diz economistaAdriano Pires tem propostas para ‘atenuar subida de preços’ do petróleo, diz economista

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segunda-feira, 28 de março de 2022

IPCA-15: prévia da inflação fica em 0,95% em março, a maior para o mês em 7 anos

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Resultado veio acima do esperado e foi puxado pela alta dos alimentos. Em 12 meses, índice acelerou para 10,79%. Preço da cenoura saltou mais de 120% em 12 meses.
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Por Darlan Alvarenga, g1

Postado em 28 de março de 2022 às 10h00m

Post. N. =  0.451

IPCA-15: prévia da inflação fica em 0,95%; maior alta para o mês de março desde 2015
IPCA-15: prévia da inflação fica em 0,95%; maior alta para o mês de março desde 2015

Puxado pela alta dos preços dos alimentos, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que é uma prévia da inflação oficial do país, ficou em 0,95% em março, após ter registrado taxa de 0,99% em janeiro, segundo divulgou nesta sexta-feira (25) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se da maior variação para um mês de março desde 2015 (1,24%).

Em 12 meses, a inflação atingiu 10,79%, acima dos 10,76% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. Já são 7 meses seguidos com o índice acima de dois dígitos no acumulado em 1 ano.

IPCA-15, prévia da inflação oficial (variação mensal) — Foto: Economia g1
IPCA-15, prévia da inflação oficial (variação mensal) — Foto: Economia g1

O resultado veio acima do esperado. Pesquisa da Reuters com economistas estimava alta de 0,87% para o IPCA-15 de março.

O IPCA-E, que se constitui a prévia da inflação no acumulado no trimestre, ficou em 2,54% para o período de janeiro a março, acima da taxa de 2,21% registrada em igual período de 2021.

Na passagem de fevereiro para março, houve alta em todos os 9 grupos de produtos e serviços pesquisados, com destaque para a alta dos alimentos e bebidas (1,95%), que respondeu por 0,40 ponto percentual do IPCA-15 do mês.

Veja a inflação de março para cada um dos grupos

  • Alimentação e bebidas: 1,95%
  • Habitação: 0,53%
  • Artigos de residência: 1,47%
  • Vestuário: 0,95%
  • Transportes: 0,68%
  • Saúde e cuidados pessoais: 1,30%
  • Despesas pessoais: 0,44%
  • Educação: 0,14%
  • Comunicação: 0,04%

Todas as regiões do país tiveram aumento de preços. A maior variação ocorreu em Curitiba (1,55%), puxada pela alta de 6,47% nos preços da gasolina. Já o menor resultado foi registrado em Brasília (0,61%), influenciado pelas quedas nos preços das passagens aéreas (-13,23%) e da energia elétrica (-2,34%).

Preços da cenoura tem salto de 45,65% no mês

As principais pressões de alta entre os alimentos vieram da cenoura (45,65%), do tomate (15,46%) e das frutas (6,34%). Houve ainda altas expressivas na batata-inglesa (11,81%), no ovo de galinha (6,53%) e no leite longa vida (3,41%).

"A alta dos alimentos foi puxada pelos aumentos dos preços de alimentos para consumo no domicílio (2,51%) devido a influência de fatores climáticos como estiagem no Sul e chuvas no Sudeste", destacou o IBGE.

No caso da cenoura, o salto em 12 meses passa de 120%.

Nos transportes, os preços da gasolina subiram 0,83% – subitem de maior peso no IPCA-15. Ocorreram altas também nos preços do óleo diesel (4,10%) e do gás veicular (5,89%). O etanol foi a exceção, com queda de 4,70%.

A alta nos preços dos combustíveis reflete em parte o reajuste de até 24,9% anunciado pela Petrobras e que entrou em vigor no dia 11 de março. Para o cálculo do IPCA-15, os preços foram coletados pelo IBGE no período de 12 de fevereiro a 16 de março.

Ainda em Transportes, os automóveis novos (0,83%) e usados (0,70%) também subiram. Por outro lado, houve queda nos preços das passagens aéreas (-7,55%), que recuaram pelo terceiro mês consecutivo.

Nos transportes públicos, houve alta de 1,04% no ônibus urbano (1,04%) decorre dos reajustes nas passagens e, Curitiba, Recife e Fortaleza.

Petrobras reajustou preços da gasolina, diesel e gás de cozinha no dia 11 de marçoPetrobras reajustou preços da gasolina, diesel e gás de cozinha no dia 11 de março

No grupo Habitação, os maiores impactos vieram do aumento da energia elétrica (0,37%) e do gás de botijão (1,29%).

No grupo Saúde e cuidados pessoais, a alta de no mês foi puxada pelos itens de higiene pessoal (3,98%) e, em particular, dos perfumes (12,84%).

Meta para o ano e projeções

A média das expectativas do mercado para a inflação fechada de 2022 está atualmente em 6,59%.

No dia anterior, o Banco Central elevou de 4,7% para 7,1% a estimativa de inflação para este ano, calculada com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Com isso, o BC admitiu que a meta de inflação deve ser superada pelo segundo ano seguido em 2022.

Em 2021, ao somar 10,06%, a maior inflação em seis anos, a meta já havia sido ultrapassada.

Definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta de inflação para este ano é de 3,5% e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 2% e 5%. Para alcançá-lo, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia, que está atualmente em 11,75% ao ano. E a Selic deve continuar a subir, atingindo 12,75%, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em maio, segundo sinalização do BC.

Nesta semana, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a guerra na Ucrânia levará o mundo a um período "relativamente longo" com a inflação maior e o crescimento econômico mais baixo. Segundo ele, a inflação no Brasil deve atingir o pico no mês de abril.

Para 2023, os economistas estimam em 3,75% a taxa de inflação e Selic a 13%. Para o próximo ano, a meta foi fixada 3,25%, e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%.

Inflação deve atingir pico em abril, diz presidente do Banco CentralInflação deve atingir pico em abril, diz presidente do Banco Central
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sexta-feira, 25 de março de 2022

Por que o dólar está caindo tanto mesmo com guerra e crise econômica

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Juro alto, força das commodities, bolsa barata e saída de investimentos da Rússia ajudam a explicar a queda da moeda americana. Mas alta de juros nos EUA e eleições podem frear a valorização do real.
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TOPO
Por BBC

Postado em 25 de março de 2022 às 08h35m

Post. N. =  0.450

Dólar — Foto: REUTERS/Rick Wilking
Dólar — Foto: REUTERS/Rick Wilking

O dólar tem surpreendido nos últimos dias, com uma forte queda em relação ao real, mesmo em meio à guerra na Ucrânia e à alta de juros nos Estados Unidos. Normalmente, esses dois fatores levariam o real brasileiro a perder força, devido à aversão ao risco e à maior atração de recursos para a economia americana.

Mas a combinação de Selic em dois dígitos, commodities em alta, bolsa brasileira barata e saída de investimentos da Rússia e leste europeu rumo a outros mercados emergentes ajuda a explicar como o dólar, que chegou próximo dos R$ 5,80 em 2021, é negociado agora abaixo dos R$ 5, tendo chegado aos R$ 4,84 nesta quarta-feira (23/3), menor patamar desde março de 2020.

Analistas ouvidos pela BBC News Brasil avaliam que, com a perspectiva de commodities em alta por mais tempo e de o Banco Central subir ainda mais os juros no Brasil, o real pode continuar se fortalecendo no curto prazo e o dólar atingir novos patamares de baixa.

No entanto, os economistas acreditam que esse movimento não deve se sustentar num prazo mais longo. Com a perspectiva de uma alta mais forte dos juros nos EUA e as eleições em outubro, eles avaliam que o dólar pode voltar a ganhar força mais à frente.

Cotação do dólar comercial cai para R$ 4,84Cotação do dólar comercial cai para R$ 4,84

Entenda em 4 pontos a queda recente do dólar em relação ao real.

1. Por que o dólar está em queda?

Segundo Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria, dois fatores principais explicam a recente queda do dólar em relação ao real.

São eles: a alta das commodities, das quais o Brasil é um grande produtor e exportador mundial, e a Selic (taxa básica de juros da economia brasileira) atualmente em 11,75%, com perspectiva de novas altas nos próximos meses.

"O real vinha muito desvalorizado, mas não havia nenhuma grande expectativa de correção no curto prazo, então a queda recente do dólar de fato surpreende", diz Campos Neto.

"O primeiro fator que explica isso é o fato de esse ser um ano muito favorável às commodities, movimento que foi reforçado pelo conflito no leste europeu. Isso deu um gás nos preços de uma série de itens e o real é uma moeda liquidamente beneficiada por esse fator, por ser o Brasil um grande exportador", afirma.

O segundo ponto é a forte alta de juros no Brasil, que levou o país a ter atualmente a segunda maior taxa de juros reais do mundo, atrás apenas da Rússia (os juros reais consideram a taxa de juros nominal, menos a inflação), e a quarta maior taxa de juros nominal, atrás somente de países com graves problemas econômicos, como Argentina (42,5%), Rússia (20%) e Turquia (14%).

"O reposicionamento da taxa de juros para um patamar mais condizente com a nossa realidade permitiu um olhar dos investidores para cá, com isso temos visto um redirecionamento de fluxos [de investimentos] já desde o início do ano", completa.

Soma-se a esses dois fatores uma bolsa brasileira que estava muito barata na comparação internacional e com diversos papéis ligados ao setor de commodities, como Vale, Petrobras e as empresas do setor agrícola.

Por fim, há o fluxo de investidores que deixaram a Rússia e o leste europeu em meio à instabilidade naquela região, e que encontraram no Brasil uma alternativa de investimento em países emergentes.

"Os dados de fluxo cambial do Banco Central mostram uma entrada de um pouco mais de US$ 10 bilhões para o Brasil no acumulado do ano", observa Marcela Rocha, economista-chefe da Claritas Investimentos.

"Isso indica que o investidor estrangeiro volta a olhar o Brasil com atratividade: um país que estava barato, com moeda desvalorizada. Agora, com juros altos e commodities em alta, ele se torna uma referência para países emergentes, num momento em que outros emergentes são abalados, caso da Rússia e todos os países do leste europeu."

2. O dólar vai cair mais? Até onde ele pode chegar?

Segundo Rocha e Campos Neto, o dólar ainda pode cair mais sim, no horizonte próximo.

"Olhando todos os vetores que estão puxando o dólar para baixo, não temos ainda perspectiva de uma mudança de cenário. Os preços de commodities continuarão pressionados e a Selic, por mais que o Banco Central queira já apontar para um fim do ciclo de alta, ainda não dá para escrever em pedra qual vai ser o nível final da taxa de juros", observa a economista da Claritas.

Na última ata do Copom (Comitê de Política Monetária), o BC indicou que pode levar a Selic acima de 12,75%, a depender do que vai acontecer com o valor do barril de petróleo, que impacta os preços dos combustíveis no Brasil e, consequentemente, a inflação.

Nesta quarta-feira, o barril de petróleo chegou aos US$ 120, num sinal de que a autoridade monetária brasileira pode de fato ter que levar a taxa de juros acima dos 13%.

Mas até onde o dólar pode ir, é difícil de prever. A analista da Claritas fala em um limite de R$ 4,70 ou R$ 4,65. Já o economista da Tendências vê um limite de R$ 4,50 ou R$ 4,40, mas avalia que esse não é o cenário mais provável, pois há outros fatores em jogo que devem por um freio na valorização do real no horizonte mais longo.

3. A queda do dólar é sustentável?

Num horizonte mais longo, os economistas avaliam que não. Provavelmente, com a aproximação da eleição e a alta mais forte de juros nos EUA, esse movimento deve estancar.

"Estamos falando de um real valorizado num momento em que o Fed [banco central americano] está subindo juros e o dólar se aprecia globalmente. Esse aumento de juros lá fora vai ser mais intenso e isso deve trazer condições mais complicadas para fluxo de investidor estrangeiro em emergentes", diz Rocha.

Já as eleições devem trazer volatilidade ao câmbio, pois nenhum dos candidatos favoritos à Presidência é percebido pelo mercado como comprometido com uma agenda econômica ortodoxa e com reformas para reduzir o gasto público.

"Claro que, se tivermos um novo governo indicando uma agenda econômica mais ortodoxa e responsável, temos condições de o câmbio terminar o ano no patamar atual ou até um pouco abaixo disso. Mas, diante das possiblidades que estão atualmente colocadas, há no mínimo uma grande incerteza sobre como vai ser a condução da economia a partir do ano que vem", diz Campos Neto.

Por fim, a guerra segue no horizonte como um fator de incerteza e alguma piora na crise no leste europeu também poderia levar a um quadro de aversão ao risco que tire dinheiro dos mercados emergentes, rumo a investimentos mais seguros, o que enfraqueceria o real.

5. Qual o efeito do dólar em queda para a economia?

A queda do dólar, caso fosse sustentável, poderia trazer algum alívio para a inflação, ao compensar parte do efeito da alta das commodities e baratear a importação de insumos.

Mas Marcela Rocha avalia que não é esse o caso.

"Para ter um repasse dessa queda do dólar para a inflação, seria necessário ter visibilidade de que esse quadro vai durar por algum tempo, mas não é isso que vemos hoje", diz ela.

Na balança comercial, Campos Neto acredita que o efeito deve ser pouco para os exportadores — que se beneficiam dos altos preços das commodities —, mas pode ser favorável para a importação de bens industrias, diante da perspectiva de que a economia brasileira ainda deve ter algum crescimento este ano, mesmo que baixo.

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