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Avanço da vacinação, alta das commodities no exterior e recuperação das blue chips fez pontuação do Ibovespa avançar em junho; risco do país ainda pode gerar instabilidade no índice.--------+++-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------+++---------
Por Patrícia Basilio, G1
Postado em 18 de junho de 2021 às 16h00m
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Bovespa - Painel da bolsa de valores de São Paulo, B3, nesta quarta-feira (11). — Foto: Cris Faga/Estadão Conteúdo
A pouco mais de 10 dias do fim, junho já é considerado o mês mais intenso do semestre na bolsa de valores brasileira, a B3. Neste mês, ela alcançou os 130 mil pontos, bateu novos recordes e chegou a acumular oito altas consecutivas até o dia 7 — na maior série de ganhos desde 2018.
Isso, apenas três meses após recuar a 110 mil pontos por conta da insegurança do mercado com a segunda onda da Covid-19 no país.
O que mudou de lá para cá? Entre outros indicadores que apontaram melhora, houve avanço de 1,2% no PIB do 1º trimestre deste ano. No entanto, especialistas garantem que o Brasil já vive a terceira onda da pandemia, com pouco mais de 10% da população totalmente vacinada, e registrando níveis recordes de desemprego e alto índice de inflação.
Com o país ainda em crise, o que justifica, então, os recordes da Bolsa?
Confira abaixo os principais motivos dessa inflexão:
Vacinação contra a Covid-19 — Foto: Cristine Rochol/PMPA
Avanço da vacinação
Dados do consórcio de veículos de imprensa divulgados nesta quinta-feira (17) apontam que 28,51% da população tomou a primeira dose da vacina contra Covid-19. A segunda dose, no entanto, foi aplicada em apenas 11,37% dos brasileiros.
Apesar dos números ainda estarem baixos, a partir de maio houve uma evolução nos números de aplicação do imunizante. São Paulo, por exemplo, adiantou o calendário de vacinação em um mês.
"A evolução da vacinação começa a dar uma perspectiva positiva para o país e cria uma luz no fim do túnel para a gente", avalia Claudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Influência de mercados externos
O desempenho de mercados externos, principalmente de Wall Street, reflete diretamente na bolsa brasileira. Isso porque a maior parte do investimento feito no país vem do exterior, explicaram os economistas.
Se algum parceiro comercial do Brasil passa por problemas econômicos, o mercado sofre os efeitos dessa adversidade.
A desaceleração da China no último semestre de 2019 foi um exemplo do efeito dominó em diversos mercados, incluindo o Brasil. Prejudicada pela guerra comercial com os EUA e pelo estopim da Covid-19, o país asiático reduziu a quantidade de importações, provocando uma queda nos preços das commodities.
O contrário também acontece – e é o que vem ocorrendo no momento. Incentivados pelo ritmo de vacinação e pelo pacote trilionário de ajuda econômica, os mercados dos EUA vivem um momento otimista, que se reflete por aqui.
Juros do Brasil e dos EUA
As taxas de juros no Brasil e do exterior também tem influência direta na bolsa brasileira. O efeito é o mesmo: juros baixos tornam menos atrativos investimentos em renda fixa e títulos públicos, e acabam por levar mais recursos à bolsa de valores, em busca de retornos maiores.
Por aqui, a taxa de juros atingiu a mínima histórica de 2% ao ano em agosto de 2020 e permaneceu nesse patamar até janeiro deste ano, quando voltou a subir. Nesta quarta-feira (16), ela atingiu 4,25% ao ano, com tendência de novas altas.
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Segundo Virgínia Prestes, professora de finanças da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), como a Selic ainda está baixa, no entanto, não deve haver uma grande movimentação na bolsa até o final do ano.
E se a alta aqui foi pouca, lá fora houve nenhuma, e os juros seguem em pisos históricos: na tarde desta quarta, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) decidiu manter inalteradas suas taxas de juros, apesar da elevação da inflação no país. A taxa básica foi mantida no piso entre zero e 0,25%. A projeção de alta foi antecipada para 2023.
"Nos EUA, a magnitudade é muito maior porque lá é mais seguro para investimentos. Quando eles aumentam a taxa de juros, há uma migração muito grande de liquidez para lá", disse a especialista.
Plataforma de exploração de petróleo — Foto: Reprodução/ TV Globo
Valorização das commodities no exterior
De acordo com João Guilherme Penteado, CEO da Apollo Investimentos, as commodities — como petróleo e minério — também registraram um bom desempenho no exterior, impactando positivamente o Ibovespa.
"A influência externa é muito intensa na bolsa brasileira. Há muita liquidez global", analisou Penteado.
Placa de 'Passo o Ponto' em restaurante na região da Berrini, em São
Paulo. Reportagem do G1 identificou mais de 20 restaurantes fechados na
região. — Foto: Marcelo Brandt/G1
Ibovespa não reflete economia do país
O principal ponto que justifica o rali do Ibovespa em meio à crise brasileira é o fato do índice não refletir o cenário econômico do país, apontaram os especialistas.
Segundo Claudia, apesar de os brasileiros perderem o poder de compra por conta da alta inflação e os pedidos de falência crescerem mais de 50%, atingindo principalmente pequenas empresas, a bolsa tem nas grandes companhias (chamadas blue chips) o grande impulso para avançar em pontuação.
"As grandes empresas sofreram o impacto da pandemia também, mas são robustas, tomaram empréstimos bancários e conseguiram manter minimamente suas receitas. Isso não aconteceu com [grande parte] dos pequenos comércios", comparou a coordenadora da FGV.
É hora de investir?
Virginia, da FAAP, afirma que a bolsa antecipa movimentos: reflete hoje o que o mercado prevê para o próximo trimestre. O momento atual é positivo, afirma.
"A bolsa está em máxima histórica. Não podemos falar que ela caiu, mesmo tendo registrado índice negativo. Ela teve apenas lateralização, com ajustes leves. Os investidores estão de olho em tudo porque ninguém quer ser o último a apagar a luz", disse.
Penteado, da Apollo, pondera que ainda é muito cedo para se falar em retomada e que ainda há muito risco no país. Ou seja, a bolsa pode sofrer grandes flutuações nos próximos meses – e o investidor precisa estar preparado para eventuais perdas.
"Temos muitos problemas que precisam ser solucionados para entrarmos no eixo de retomada, como a questão fiscal. Quando o país começar a entrar no eixo, chegará a eleição, com um risco fiscal enorme", avaliou.
Claudia, da FGV, concorda com os desafios que o Brasil ainda tem de enfrentar, mas afirma ser possível aproveitar esse movimento com cautela, principalmente por investidores que são propensos ao risco.
"Existe um otimismo, mas existe também uma preocupação porque é um dinheiro que entra e sai fácil".
Para quem quiser investir, vale sempre a máxima: cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém.
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