Apesar da segunda alta mensal seguida, varejo brasileiro acumula queda de 3,1% no ano e de 0,1% em 12 meses. No 2º trimestre, setor registrou queda recorde de 7,8%.
Por Darlan Alvarenga e Daniel Silveira, G1
12/08/2020 09h00 Atualizado há 38 minutos
Postado em 12 de agosto de 2020 às 10h00m
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Comércio varejista tem pior 1º semestre desde 2016 no Brasil
As vendas do comércio varejista cresceram 8% em junho,
na comparação com maio, segundo dados divulgados nesta quarta-feira
(12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se da segunda alta consecutiva do setor, após tombo nos meses de março e abril.
Com o resultado, o varejo brasileiro acumula queda de 3,1% no ano e de 0,1% em 12 meses.
Foi a primeira queda semestral desde o primeiro semestre de 2017
(-0,2%) e a mais intensa desde o 2º semestre de 2016 (-5,6%).
Na comparação com junho de 2019, houve alta de 0,5% – primeira taxa positiva após três meses de perdas nesta base de análise.
O resultado veio acima do esperado pelo mercado e fez o setor retornar ao patamar observado antes da pandemia. A expectativa em pesquisa da Reuters era de alta de 5,40% na comparação mensal e de queda de 3,45% sobre um ano antes.
A alta recorde de maio foi revisada pelo IBGE para 14,4%, ante leitura inicial de avanço de 13,9%.
"Apesar dos números positivos nesses dois meses, o varejo fechou o primeiro semestre com -3,1%, frente ao primeiro semestre de 2019, influenciado pelas medidas de isolamento social para contenção da pandemia de Covid-19. Esse resultado semestral é o menor desde o segundo semestre de 2016 (- 5,6%)", destacou o IBGE.
A receita nominal do varejo, por sua vez, subiu 8,5% em junho. Na
comparação com junho do ano passado, subiu 2,7%. No acumulado no 1º
semestre, a receita nominal do comércio acumulou elevação de 0,1%. Em 12
meses, tem alta de 2,8%.
Bom Dia Brasil: vendas no varejo aumentaram 8% de maio para junho
Queda recorde de 7,8% no 2º trimestre
O comércio fechou o 2º trimestre com queda de 7,8% em relação aos 3 meses anteriores,
o maior tombo trimestral do setor já registrado pela pesquisa. No
primeiro trimestre, o recuo havia sido de 1,7% sobre o 4º trimestre.
Na comparação com o 2º trimestre de 2019, houve queda de 7,7%, também
recorde histórico e primeiro resultado negativo desde o período de
janeiro a março de 2017.
Alta em 7 das 8 atividades em junho
Com exceção de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-2,7%), todas as outras 7 atividades analisadas pela pesquisa cresceram ante maio.
Os maiores percentuais de avanço foram observados nas vendas de livros, jornais, revistas e papelarias (69,1%), tecidos, vestuário e calçados (53,2%). O grande destaque, porém, foi móveis e eletrodomésticos (31%), que
interrompeu a trajetória de queda observada desde fevereiro e passou a
acumular avanço de 3,5% em 12 meses, apesar da queda de 1,3% no 1º
semestre.
O setor de hipermercados, com peso de cerca de 50% no índice geral, registrou alta de 0,7% em junho, acumulando avanço de 5,4% no ano.
O comércio varejista ampliado,
que inclui também as atividades de veículos, motos, partes e peças e de
material e construção, cresceu 12,6% em relação a maio, mas caiu 0,9%
na comparação interanual – 4ª taxa negativa consecutiva. No acumulado no
ano, a queda é de 7,4% e, em 12 meses, o recuo é de 1,3%.
Desempenho de cada atividade do varejo em junho
- Combustíveis e lubrificantes: 5,6%
- Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo: 0,7%
- Tecidos, vestuário e calçados: 53,2%
- Móveis e eletrodomésticos: 31%
- Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria: -2,7%
- Livros, jornais, revistas e papelaria: 69,1%
- Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação: 22,7%
- Outros artigos de uso pessoal e doméstico: 26,1%
- Veículos, motos, partes e peças: 35,2% (varejo ampliado)
- Material de construção: 16,6% (varejo ampliado)
“Os resultados positivos eram esperados porque viemos de uma base de comparação muito baixa, que foi o mês de abril (-17%). Esse crescimento, então, foi praticamente generalizado, distribuído em quase todas as atividades”, observou o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.
“Há um movimento de adaptação. Tanto móveis e eletrodomésticos quanto
livros, jornais, revistas e papelarias são duas das atividades com maior
potencial de adaptação, principalmente nas pequenas e médias empresas,
que sempre tiveram o comércio calcado na venda física. Com a pandemia,
ao longo do tempo, elas aprenderam a ofertar seus produtos de maneira
distinta e a trabalhar com entrega, por exemplo”, acrescentou.
Recuperação desigual entre as atividades
Segundo o IBGE, 3 atividades das 8 atividades analisadas já retornaram ao patamar pré-pandemia em junho:
hiper e supermercados, artigos farmacêuticos e móveis e
eletrodomésticos, sendo que as duas primeiras foram as únicas que não
tiveram suas atividades fechadas por decretos de isolamento social no
período.
Apesar do setor continuar em trajetória de recuperação, o patamar de vendas geral segue 4,8% abaixo do recorde alcançado em outubro 2014. Em abril, essa distância chegou a 22,9%.
No comércio varejista ampliado, o patamar atual de vendas está 12% abaixo do recorde alcançado em agosto 2012.
Entre as empresas consultadas na pesquisa, 12,9% relataram impacto em
suas receitas em junho das medidas de isolamento social, em um recuo
ante 18,1% em maio.
Vendas crescem em 24 estados
O volume de vendas cresceu 24 unidades da federação em junho, na
comparação com maio, com destaque para Pará (39,1%), Amazonas (35,5%) e
Ceará (29,3%). Rio Grande do Sul (-9,0%), Paraíba (-2,4%) e Mato Grosso
(-2,0%) foram os estados que registraram queda.
Perspectivas
Depois do forte tombo em março e abril, em meio às medidas de isolamento social para combater a pandemia, a economia tem mostrado sinais de recuperação, mas a incerteza permanece elevada diante do número ainda elevado de casos de coronavírus e queda da renda da população.
A produção industrial cresceu 8,9% em junho, na comparação com maio.
Foi a segunda alta seguida do setor, mas ainda insuficiente para
eliminar a perda de 26,6% acumulada nos meses de março e abril, quando o
setor atingiu o nível mais baixo já registrado no país. No 2º
trimestre, a indústria teve queda de 17,5%, na comparação com os 3
primeiros meses do ano, e tombo de 19,4% contra o mesmo trimestre do ano
passado.
Analistas tem destacado que a recuperação tem sido mais forte nas vendas no varejo e na produção industrial, enquanto o setor de serviços, mais impactado pelo isolamento social, mostra uma recuperação mais lenta.
A pesquisa Focus mais recente do Banco Central mostra que a expectativa do mercado é de retração de 5,62% para a economia brasileira em 2020.
Em 2019, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), o PIB cresceu 1,1%. Foi o desempenho mais fraco em
três anos. Nos três primeiros meses de 2020, foi registrada uma retração
de 1,5% na economia brasileira. O IBGE divulgará os dados sobre o
segundo trimestre em 1º de setembro.
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