75,5% do total de vagas fechadas no ano estão nesse patamar de renda; ocupações com maior número de postos criados estão nas áreas de saúde, educação e agricultura.
Por Marta Cavallini, G1
12/07/2020 09h59 Atualizado há 3 horas
Postado em 12 de julho de 2020 às 13h05m
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A pandemia mudou o cenário de criação de vagas no país. Se em 2018 e
2019 o saldo positivo de vagas formais era restrito às faixas salariais
de até dois salários mínimos, em 2020, até o mês de maio, esses foram os
patamares de salário com maior fechamento de postos de trabalho.
Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged),
enviados pela Secretaria Especial de Previdência e Trabalho a pedido do G1.
No acumulado de 2020, do total de 1,145 milhão de vagas fechadas, mais da metade foi na faixa salarial de 1,01 a 1,5 salário mínimo - um total de 635,1 mil postos de trabalho fechados. Essa faixa liderou o saldo de vagas criadas em 2018 e 2019.
Já na faixa de 1,51 a 2 salários mínimos, foram 229,3 mil postos
fechados até maio deste ano. Essas duas faixas corresponderam a 75,5% do
total de vagas fechadas no ano.
No caso da renda de 0,51 a 1,0 salário mínimo, que ficou na
vice-liderança de criação de vagas em 2018 e 2019, foram fechadas mais
de 45 mil vagas.
A única faixa salarial com saldo positivo de vagas neste ano foi a de até meio salário mínimo: 24,2 mil vagas criadas. Veja no gráfico abaixo:
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Setores e cargos com maior demanda
A pandemia também mudou o ranking de ocupações que mais criaram vagas com carteira assinada nos primeiros meses de 2020. A predominância foi nas áreas de saúde, educação e agricultura.
As medidas de restrição e isolamento social para reduzir a velocidade
do avanço da doença provocaram a suspensão do funcionamento de serviços
considerados não essenciais, o fechamento de boa parte do comércio e
também de fábricas.
Em janeiro, técnico de enfermagem e enfermeiro não apareciam entre os
30 cargos com maior saldo de vagas. No acumulado até maio, entretanto,
ambos lideraram a lista de cargos, sendo responsáveis pela criação de
quase 45 mil vagas (veja relação abaixo).
Esse cenário tem relação com a demanda de profissionais para o tratamento da Covid-19.
Já no ranking de ocupações que mais perderam vagas, vendedor de comércio varejista lidera,
com 180.258 postos de trabalho fechados até maio. O quadro também tem
relação com a pandemia, que levou ao fechamento de estabelecimentos. Em
janeiro, o cargo também liderou o fechamento, com 28,8 mil vagas a
menos. Entretanto, essa redução foi motivada principalmente pelo término
de contratos temporários para as vendas de Natal.
Outras ocupações que fecharam vagas até maio, que têm relação com o
encerramento de atividades devido à pandemia, são atendente de
lanchonete, auxiliar de escritório, operador de caixa, cozinheiro geral e
garçom.
O comércio e serviços foram os setores que mais fecharam vagas até
maio, o que explica o ranking de cargos com maior perda de postos. O
setor agropecuário foi o único que registrou saldo positivo de vagas.
Veja abaixo o saldo de vagas em cada setor no ano até maio:
- Comércio: -446.584 vagas
- Serviços: -442.580 vagas
- Construção: -44.647 vagas
- Indústria: -236.410 vagas
- Não identificado: -84 vagas
- Agropecuária: 25.430 vagas
- Ranking de ocupações que mais criaram vagas:
- Técnico de Enfermagem: 29.376
- Enfermeiro: 15.501
- Tratorista Agrícola:12.635
- Trabalhador Volante da Agricultura: 12.410
- Motorista de Caminhão (Rotas Regionais e Internacionais): 12.301
- Trabalhador da Cultura de Café: 9.867
- Professor de Nível Superior do Ensino Fundamental (1ª a 4ª Série): 8.389
- Auxiliar de Processamento de Fumo: 7.398
- Magarefe: 6.582
- Trabalhador Agropecuário em Geral: 5.655
- Professor de Nível Médio no Ensino Fundamental: 5.482
- Auxiliar de Desenvolvimento Infantil: 4.914
- Operador de Máquinas de Beneficiamento de Produtos Agrícolas: 4.335
- Professor da Educação de Jovens e Adultos do Ensino Fundamental (1ª a 4ª Série): 4.201
- Trabalhador da Cultura de Milho e Sorgo: 3.965
- Professor de Nível Superior na Educação Infantil (4 a 6 Anos): 3.488
- Professor de Nível Médio na Educação Infantil: 3.441
- Fisioterapeuta Geral: 3.131
- Auxiliar de Enfermagem: 2.771
- Analista de Desenvolvimento de Sistemas: 2.728
- Professor de Nível Superior na Educação Infantil (0 a 3 Anos): 2.559
- Professor de Ensino Superior na Área de Prática de Ensino: 2.511
- Embalador à Mão: 2.491
- Professor de Ensino Superior na Área de Didática: 2.313
- Abatedor: 2.249
- Operador de Colheitadeira: 2.199
- Professor de Disciplinas Pedagógicas no Ensino Médio: 2.063
- Professor de Língua Inglesa: 1.906
- Inspetor de Alunos de Escola Pública: 1.861
- Orientador Educacional: 1.761
- Ranking de ocupações que mais perderam vagas:
- Vendedor de Comércio Varejista: -180.258
- Atendente de Lanchonete: -45.170
- Auxiliar de Escritório, em Geral: -42.775
- Operador de Caixa: -40.682
- Cozinheiro Geral: -38.963
- Garçom: -34.171
- Auxiliar nos Serviços de Alimentação: -33.774
- Assistente Administrativo: -33.675
- Trabalhador da Cultura de Cana-de-Açúcar: -30.985
- Recepcionista, em Geral: -23.385
- Faxineiro: -22.918
- Atendente de Lojas e Mercados: -22.401
- Almoxarife: -21.165
- Trabalhador no Cultivo de Arvores Frutíferas: -17.496
- Camareiro de Hotel: -16.962
- Frentista: -16.046
- Promotor de Vendas: -15.395
- Alimentador de Linha de Produção: -14.960
- Supervisor Administrativo: -14.815
- Costureiro na Confecção em Série: -12.190
- Ajudante de Motorista: -12.120
- Assistente de Vendas: -10.415
- Operador de Telemarketing Ativo e Receptivo: -10.233
- Motorista de Ônibus Rodoviário: -9.851
- Gerente Administrativo: -9.605
- Costureiro, a Máquina na Confecção em Série: -9.460
- Pedreiro: -9.458
- Motorista de Ônibus Urbano: -9.279
- Trabalhador Polivalente da Confecção de Calçados: -9.100
- Vendedor em Comércio Atacadista: -9.068
- Menos escolarizados são mais afetados
O maior fechamento de vagas se deu entre níveis de escolaridade mais
baixos, com exceção dos analfabetos, que foram os menos afetados.
Lideram no saldo negativo de vagas os profissionais com nível médio
completo, seguidos de quem tem fundamental incompleto e completo. Além
dos analfabetos, o desemprego afetou menos os profissionais de nível
superior.
Saldo de vagas por nível de escolaridade — Foto: Economia G1
Já em relação à faixa etária, profissionais de 30 a 39 anos foram os
mais afetados: 368,2 mil vagas fechadas. A única faixa etária que teve
saldo de vagas positivo foi até os 17 anos.
Saldo de vagas por faixa etária — Foto: Economia G1
Na crise, mais qualificados perdem menos
Para Daniel Duque, pesquisador do FGV Ibre, os números apontam que os
trabalhadores mais qualificados tiveram uma piora bem menos
significativa.
“Quanto ao salário de admissão do Caged, eles aumentaram. Isso
significa que estão sendo expulsos do mercado de trabalho aqueles com
menores rendimentos, e os empregos formais criados no período de
pandemia são os de maior salário, então você vê uma mudança de
composição do mercado de trabalho”, comenta.
Juliana Inhasz, coordenadora da graduação em economia do Insper, afirma
que os efeitos para o trabalhador desempregado com renda mais baixa
serão mais perversos porque, no geral, ele possui qualificação menor e
terão de disputar vagas com aqueles que têm qualificação maior.
“A gente tem um mercado com muita gente desempregada, inclusive com mais qualificação, que se mostra disposta a trabalhar por salários menores do que ganhava quando deixou o mercado. E essas pessoas vão acabar sendo talvez mais atrativas do que as com baixa qualificação. Então esses trabalhadores de baixa renda vão ter uma dificuldade maior para se recolocar”, diz.
Daniel Duque considera que, quando há uma crise no mercado de trabalho,
os mais atingidos são os que têm menor qualificação, em especial os
jovens com menos experiência e menos a oferecer.
“Então as pessoas que têm menor escolaridade e menos qualificação terão
mais dificuldade de se recolocar do que quem tem formação superior e
especializações. Os jovens tiveram a possibilidade do serviço de entrega
que foi um certo colchão”, afirma.
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