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No ano, a indústria acumula perda de 3,4%. Derivados do petróleo puxam crescimento no mês, enquanto a produção de veículos impõe freio ao setor.--------+++-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------+++---------
Por Daniel Silveira, g1 — Rio de Janeiro
Postado em 03 de junho de 2022 às 12h00m
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Refinaria da Petrobras, Replan, localizada em Paulínia, interior de São Paulo — Foto: Agência Petrobras
A produção industrial brasileira cresceu 0,1% em abril, na comparação com março, conforme divulgado nesta sexta-feira (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em relação a abril do ano passado, no entanto, houve queda de 0,5%.
Foi a terceira alta mensal seguida, com crescimento de 1,4% acumulado no período, mas ainda insuficiente para recuperar a perda de janeiro – no ano, o setor industrial acumula queda de 3,4%.
Com o resultado, a produção industrial do país ainda se encontra 1,5% abaixo do patamar pré-pandemia e 18% abaixo do nível recorde, alcançado em maio de 2011.
"Essas duas comparações dão a dimensão de um setor industrial que, embora venha mostrado um maior dinamismo nos últimos três meses, está muito aquém de dois anos atrás e com muito espaço para crescer", avaliou o gerente da pesquisa, André Macedo.
Embora próximo da estabilidade, o resultado foi o melhor para um mês de abril, na comparação com março, desde 2019, quando houve crescimento de 0,3% – em abril de 2020, houve queda recorde de 19,7%, e em 2021 foi registrado recuo de 1,8%.
Já o indicador acumulado em 12 meses, que vinha desacelerando desde setembro do ano passado, despencou para -0,3% em abril, primeira variação negativa desde março do ano passado, quando ficou em -3,1%.
O IBGE revisou os resultados anteriores. A queda de janeiro foi 1,9%, menos intensa que o recuo de 2% divulgado inicialmente. Já o crescimento de março foi revisado para cima, passando de 0,3% para 0,6%.
De acordo com o gerente da pesquisa do IBGE, a atual conjuntura econômica do país segue sendo entrave para a retomada da indústria brasileira. O aumento do custo de produção e a escassez de algumas matérias-primas são os principais fatores que justificam, a menor intensidade do ritmo da produção industrial no país.
“Pelo lado da demanda doméstica, os juros elevados dificultam o acesso ao crédito e inibem os investimentos, a inflação em patamares elevados diminui a renda das famílias, o mercado de trabalho ainda não se recuperou e a massa de rendimentos não avança. Assim, há menor recurso por parte das famílias para que a demanda doméstica alavanque o consumo e a produção”, explicou Macedo.
Ao divulgar o Produto Interno Bruto (PIB) do 1º trimestre, que cresceu 0,1% na comparação com o 4º trimestre do ano passado, o IBGE apontou para a estagnação da indústria do país, que avançou apenas 0,1% em relação ao trimestre imediatamente anterior, mas recuou 1,5% ante igual período do ano passado.
Predomínio de taxas positivas
Macedo apontou que os três últimos resultados denotam uma melhora no comportamento do setor industrial, que vem apresentando predomínio de taxas positivas.
Em abril, 16 das 26 atividades industriais investigadas pelo IBGE apresentaram crescimento frente a março.
O destaque ficou por conta da atividade de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, que avançou 4,6% após dois meses seguidos no campo negativo e respondeu pela principal influência positiva no resultado do mês.
Também se destacaram as atividades de bebidas e outros produtos químicos, com alta de 5,2% e 2,8%, respectivamente.
Já dentre as dez atividades com queda na produção na passagem de março para abril, se destacam a de produtos alimentícios e a de veículos automotores, reboques e carrocerias, que recuaram 4,1% e 4,2%, respectivamente, respondendo pelos principais impactos negativos no resultado geral.
Dentre as grandes categorias econômicas, duas tiveram variação positiva frente a março, enquanto duas apresentaram queda:
- Bens intermediários: 0,8%
- Bens semi e não duráveis: 2,3%
- Bens duráveis: -5,5%
- Bens de capital: -9,2%
Já na comparação interanual, há predomínio de taxas negativas: 18 das 26 atividades investigadas tiveram queda na produção.
A atividade de veículos automotores, reboques e carrocerias, com queda de 7,6% na comparação com abril do ano passado, foi a que exerceu a maior influência negativa, seguida pela queda de 4,7% na atividade de produtos alimentícios.
Também se destacaram negativamente as atividades de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-16,7%) e de produtos de metal (-11,3%).
Já no grupo dos oito setores que cresceram, coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (19,9%) exerceu a maior influência. Outros impactos positivos importantes foram registrados por outros produtos químicos (11,0%), bebidas (13,2%) e celulose, papel e produtos de papel (2,8%).
Entre as grandes categorias econômicas, bens de consumo duráveis e bens de capital registraram queda na comparação com abril do ano passado – respectivamente de -13,2% e -5,1%. Já bens de consumo semi e não duráveis e de bens intermediários avançaram nesta base de comparação, com altas respectivas de 3,3% e 0,1%.
Produção de veículos freia indústria nacional
Após ter crescido em março (6,7% na comparação com fevereiro e 2,3% ante março do ano passado), a produção de veículos voltou a ter queda em abril – de -4,3% e de -7,6%, respectivamente.
De acordo com o gerente da pesquisa, além de ter sido a segunda influência negativa no resultado de abril ante março e o principal impacto negativo na comparação com abril do ano passado, a produção de veículos é a que exerce maior influência negativa no acumulado do ano para o setor industrial.
“A atividade de veículos automotores é um exemplo de atividade com dificuldade de acesso a matérias-primas e componentes eletrônicos, levando a menor intensidade do ritmo de produção e interrupções nas jornadas de trabalho”, analisou Macedo.
Dentre as 26 atividades industriais investigadas pelo IBGE, a de veículos é a terceira com patamar de produção mais distante do que era observado antes da pandemia – em abril, operava 16,9% abaixo de nível de fevereiro de 2020.
Apenas dez das 26 atividades operavam em patamar superior ao período pré-pandemia. Dentre as 16 que não recuperaram o nível de produção, metade registra variação negativa de dois dígitos.
A indústria brasileira continua sendo impactada pela alta dos preços das matérias-primas, falta de insumos e restrições de oferta. O ambiente ainda é de custos elevados por conta da energia e logística, e esse cenário deve manter o setor com baixo dinamismo ao longo do ano.
"Ainda há problemas de desabastecimento para bens, os custos seguem elevados, temos juros em elevação que encarecem o crédito, a inflação mais alta afeta a renda disponível bem como fatores ligados ao mercado de trabalho, com milhões de desempregados e renda comprometida”, enfatizou o pesquisador do IBGE André Macedo.
Apesar deste cenário, a confiança da indústria no Brasil alcançou, em maio, o maior patamar em cinco meses, conforme levantamento divulgado na semana passada pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
Os dados mostraram que o Índice de Confiança da Indústria (ICI) subiu 2,3 pontos na comparação com o mês passado, para 99,7, máxima desde dezembro de 2021 (100,1 pontos).
"Houve aumento da satisfação em relação à situação corrente dos negócios, com avaliações bastante favoráveis quanto ao nível atual da demanda externa", explicou o economista do FGV IBRE Aloisio Campelo Jr. em nota.
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