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quinta-feira, 31 de julho de 2025

Desemprego cai a 5,8% no 2º trimestre, a menor taxa da série histórica do IBGE

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A desocupação ainda atinge 6,3 milhões de pessoas. Número de ocupados chega ao recorde de 102,3 milhões. Carteira assinada, rendimento médio e massa salarial também atingem máximas.
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Por Raphael Martins, g1 — São Paulo

Postado em 31 de Julho de 2.025 às 10h00m

$.#  Postagem  Nº     1.060  #.$

A taxa de desemprego no Brasil foi de 5,8% no segundo trimestre de 2025, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, divulgada nesta quinta-feira (31) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A taxa do trimestre encerrado em junho representa a menor taxa da série histórica iniciada em 2012. A partir deste mês, os dados do IBGE passaram a ser recalculados com base no Censo Demográfico de 2022. (saiba mais abaixo)

Em comparação com o trimestre anterior, encerrado em março, houve queda de 1,2 ponto percentual (p.p.) na taxa de desocupação, que era de 7%. No mesmo período de 2024, a taxa era de 6,9%.

Ao todo, 6,3 milhões de pessoas estão sem emprego no país, o que representa uma queda de 17,4% (ou mais 1,3 milhão de pessoas) em relação ao trimestre anterior, e um recuo de 15,4% (menos 1,1 milhão de pessoas) em comparação com 2024.

No trimestre encerrado em junho, a população ocupada foi estimada em 102,3 milhões de pessoas — novo recorde da série histórica iniciada em 2012. O número representa alta de 1,8% no trimestre (1,8 milhão de pessoas) e de 2,4% no ano (2,4 milhões a mais).

Com isso, 58,8% das pessoas em idade de trabalhar no Brasil (14 anos ou mais) estão empregadas — é o que o IBGE chama de nível de ocupação. O aumento foi de 0,69 p.p. contra o trimestre anterior. Em relação ao mesmo período do ano anterior, a alta é de 1 p.p.

Veja os destaques da pesquisa

  • Taxa de desocupação: 5,8%
  • População desocupada: 6,3 milhões de pessoas
  • População ocupada: 102,3 milhões
  • População fora da força de trabalho: 65,5 milhões
  • População desalentada: 2,8 milhões
  • Empregados com carteira assinada: 39 milhões
  • Empregados sem carteira assinada: 13,5 milhões
  • Trabalhadores por conta própria: 25,8 milhões
  • Trabalhadores informais: 38,7 milhões
  • Taxa de informalidade: 37,8%

Carteira assinada batem novo recorde

O número de trabalhadores com e sem carteira assinada no setor privado cresceu 3% em relação ao ano anterior, alcançando 52,6 milhões. Houve alta nos dois comparativos: 1,3% no trimestre e 2,7% no ano.

Entre os empregados com carteira assinada, o total chegou a 39 milhões, o maior patamar da série histórica.

Contra o trimestre anterior, houve alta de 0,9%, com acréscimo de 357 mil trabalhadores. Na comparação anual, o crescimento foi de 3,7%, o que representa 1,4 milhão de pessoas a mais.

Já os empregados sem carteira somam 13,5 milhões. No trimestre, houve alta de 2,6%, com acréscimo de 338 mil pessoas. Em relação a 2024, o número se manteve estável.

taxa de informalidade ficou em 37,8% da população ocupada, o equivalente a 38,7 milhões de trabalhadores. No trimestre anterior, o índice era de 38%, e no mesmo período de 2024, de 38,6%.

No setor público, o número de empregados chegou a 12,8 milhões — novo recorde da série. Houve alta de 5% no trimestre (mais 610 mil pessoas) e de 3,4% no ano (mais 423 mil).

Os trabalhadores por conta própria totalizam 25,8 milhões, com crescimento de 1,7% no trimestre (mais 426 mil pessoas) e de 3,1% no ano (mais 767 mil).

Fora da força de trabalho

Seguindo o padrão internacional, o IBGE considera como desocupadas as pessoas sem trabalho que estão em busca de emprego. A soma desse grupo com o dos ocupados compõe a força de trabalho no Brasil.

população dentro da força de trabalho cresceu 0,5%, totalizando 108,6 milhões de pessoas.

Com isso, 65,5 milhões de brasileiros estão fora da força de trabalho — número estável tanto no trimestre quanto no ano. São pessoas com 14 anos ou mais que não estão empregadas nem procuram trabalho ou não estão disponíveis para trabalhar.

Esse grupo inclui, por exemplo, aposentados, adolescentes em idade escolar, donas de casa sem interesse ou condições de trabalhar, além dos desalentados.

população desalentada caiu para 2,8 milhões, com recuo de 13,7% no trimestre e de 14% em relação ao mesmo período de 2024.

🔎 Os desalentados são pessoas que gostariam de trabalhar, mas desistiram de procurar emprego por acreditarem que não encontrariam vaga, seja por falta de qualificação, idade ou ausência de oportunidades na região onde vivem.

taxa de subutilização, que faz a relação entre desocupados, quem poderia trabalhar mais e quem não quer trabalhar com toda a força de trabalho, segue em tendência de baixa.

O número de pessoas subutilizadas é de 16,5 milhões, o que corresponde a uma taxa de 14,4% — a menor da série histórica. O índice caiu 1,5 ponto percentual em relação ao trimestre anterior e 2 pontos na comparação anual.

Rendimento registra alta

O rendimento real habitual atingiu o maior valor da série histórica, chegando a R$ 3.477. A alta foi de 1,1% no trimestre e de 3,3% na comparação anual.

A massa de rendimento real habitual também bateu recorde, estimada em R$ 351,2 bilhões. O valor representa alta de 2,9% em relação ao trimestre anterior e de 5,9% na comparação com o mesmo trimestre do ano passado.

Entenda como o desemprego é calculado no Brasil
Entenda como o desemprego é calculado no Brasil

Reponderação de dados com base no Censo

O IBGE atualizou os resultados da PNAD Contínua a partir dos dados demográficos do Censo 2022. Veja a nota do instituto abaixo.

A partir hoje, 31 de julho de 2025, as estimativas dos trimestres móveis da PNAD Contínua foram atualizadas e reponderadas, para refletir as novas estimativas populacionais do IBGE, baseadas no Censo 2022.

As populações utilizadas no cálculo dos fatores de expansão da PNAD Contínua foram atualizadas, mantendo-se a metodologia anteriormente adotada para as datas de referência da pesquisa. Mais detalhes sobre essa reponderação estão na nota técnica, aqui.

Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) — Foto: Divulgação/Agência Brasil
Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) — Foto: Divulgação/Agência Brasil

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quarta-feira, 30 de julho de 2025

Copom interrompe ciclo de alta de juros e mantém Selic em 15% ao ano

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Comitê do Banco Central subiu a taxa Selic por sete reuniões seguidas; manutenção era esperada pelo mercado. Comunicado faz menção a tarifas impostas pelos EUA.
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Por Thiago Resende, Alexandro Martello, TV Globo e g1 — Brasília

Postado em 30 de Julho de 2.025 às 19h35m

$.#  Postagem  Nº     1.059  #.$

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu nesta quarta-feira (18) interromper o ciclo de alta da taxa básica de juros, que foi mantida em 15% ao ano.

"O Comitê tem acompanhado, com particular atenção, os anúncios referentes à imposição pelos EUA de tarifas comerciais ao Brasil, reforçando a postura de cautela em cenário de maior incerteza. Além disso, segue acompanhando como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros", diz o comunicado divulgado pelo BC.

Em outro trecho do comunicado, o Copom cita que o ambiente externo está mais adverso e incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente acerca de suas políticas comercial e fiscal e de seus respectivos efeitos. E que esse cenário exige cautela principalmente de países emergentes, diante da tensão geopolítica.

O Comitê reafirmou que, apesar da atividade econômica tenha apresentado crescimento mais moderado, o mercado de trabalho continua aquecido.

Ao citar o cenário provocado pelos Estados Unidos e as questões internas do país, o Copom escreveu que, em busca de trazer a inflação para a meta, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado.

E sinalizou que o patamar atual dos juros deve permanecer nas próximas reuniões.

Em se confirmando o cenário esperado, o Comitê antecipa uma continuação na interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados, e então avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta, diz o texto.

O Comitê enfatizou que vai continuar monitorando o cenário e, se necessário, poderá fazer ajustes na política monetária.

Maior patamar em 20 anos

Esse é o maior patamar em quase 20 anos – em julho de 2006, ainda no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a taxa Selic estava em 15,25% ao ano.

A decisão desta quarta-feira foi unânime e era esperada pelo mercado financeiro.

  • 🔎A taxa básica de juros da economia é o principal instrumento do BC para tentar conter as pressões inflacionárias, que tem efeitos, principalmente, sobre a população mais pobre.

O Copom é formado pelo presidente do Banco Central e por oito diretores da autarquia. A partir deste ano a maioria dos dirigentes é indicada pelo presidente Lula.

Composição do Copom. — Foto: Flickr do BCB
Composição do Copom. — Foto: Flickr do BCB

A expectativa de economistas é de que a taxa seja mantida no atual patamar, ao menos, até 2026.

Como age o Banco Central?

Para definir os juros, a instituição atua com base no sistema de metas. Se as projeções estão em linha com as metas, é possível baixar os juros. Se estão acima, o Copom tende a manter ou subir a Selic.

Desde o início de 2025, com o início do sistema de meta contínua, o objetivo de 3% será considerado cumprido se a inflação oscilar entre 1,5% e 4,5%.

Selic a 15%: o que muda no seu bolso
Selic a 15%: o que muda no seu bolso

Com a inflação ficando seis meses seguidos acima da meta em junho, o BC teve de divulgar uma carta pública explicando os motivos.

  • 🔎Ao definir a taxa de juros, o BC olha para o futuro, ou seja, para as projeções de inflação, e não para a variação corrente dos preços, ou seja, dos últimos meses. Isso ocorre porque as mudanças na taxa Selic demoram de seis a 18 meses para ter impacto pleno na economia.

Neste momento, por exemplo, a instituição já está mirando na meta considerando o segundo semestre de 2026.

Para este ano e os próximos anos as projeções do mercado para a inflação oficial – todas acima da meta central buscada pelo BC, de 3% – são:

  • 2025: 5,09% (com estouro da meta);
  • 2026: 4,44%;
  • 2027: 4%; e
  • 2028: 3,8%.
Próximas reuniões

O Copom costuma se reunir a cada 45 dias para definir o patamar da Selic. Em 2025, o colegiado vai se reunir três vezes:

  • 16 e 17 de setembro
  • 4 e 5 de novembro
  • 9 e 10 de dezembro
Banco Central do Brasil
Copom

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terça-feira, 29 de julho de 2025

Por que China não é alternativa para vender produtos atingidos por tarifa de Trump

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A lista de produtos brasileiros exportados aos EUA é diversificada e tem desde produtos básicos como petróleo, suco de laranja e carne, a industrializados de alta tecnologia, como aviões. Com tarifa de 50% imposta pelo presidente americano, seria a China candidata a absorver a demanda?
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TOPO
Por BBC

Postado em 29 de Julho de 2.025 às 12h15m

$.#  Postagem  Nº     1.058  #.$

Carne bovina é um dos produtos que Brasil vende tanto aos EUA quanto à China — Foto: Getty Images via BBC
Carne bovina é um dos produtos que Brasil vende tanto aos EUA quanto à China — Foto: Getty Images via BBC

A poucos dias da data prevista para implementação da tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros exportados para os EUA, o governo segue tentando interlocução com a equipe do presidente americano, Donald Trump, para negociar.

Na segunda-feira (28/7), uma comitiva de senadores brasileiros que viajou aos EUA se reuniu com membros da Câmara de Comércio do país e tenta diálogo com parlamentares americanos.

Em outra frente, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) tem conversado com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, para discutir uma possível lista de exceções aos produtos que serão taxados se a medida de fato entrar em vigor após 1º de agosto.

Em meio à escalada de tensão, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, afirmou, também na segunda-feira (28/7), que o país estaria disposto a trabalhar com o Brasil para "defender conjuntamente o sistema multilateral de comércio centrado na OMC e proteger a justiça e a equidade internacional", em uma referência indireta ao tarifaço americano.

Questionado sobre a possibilidade de uma maior abertura às exportações brasileiras, Jiakun respondeu que o país estaria disposto a "promover a cooperação com base em princípios de mercado".

Nesse sentido, o Brasil poderia tentar redirecionar as exportações antes destinadas ao mercado americano para a China?

Maiores parceiros, mas pautas diferentes

Os especialistas consultados pela reportagem avaliam que as possibilidades nesse sentido são limitadas.

Isso porque, apesar de serem os dois maiores parceiros comerciais do Brasil, China e Estados Unidos compram produtos bastante diferentes das empresas brasileiras.

"A nossa pauta para os Estados Unidos é muito peculiar dentro do universo de produtos que vendemos para o mundo", diz Livio Ribeiro, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) e sócio da consultoria BRCG.

A lista é diversificada, com muitos produtos manufaturados. Alguns são bens finais, como aviões, mas uma fatia considerável, segundo o economista, são os chamados bens de meio de cadeia, como lingotes de aço e outros produtos que vão ser processados em solo americano antes de chegarem ao consumidor final.

Já a pauta de exportações para a China está bastante concentrada em poucos produtos básicos. Entre janeiro e junho deste ano, 40% dos US$ 47,7 bilhões que o país vendeu para os chineses foi soja. Petróleo respondeu por outros 19% e minério de ferro, por outros 17%.

Os dados do sistema de estatísticas do comércio exterior brasileiro do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) deixam claram essa diferença, como ilustrado pelos gráficos abaixo.

China critica tarifaço de Trump ao Brasil e acusa EUA de coerção
China critica tarifaço de Trump ao Brasil e acusa EUA de coerção

Entre os produtos que poderiam ser eventualmente redirecionados à China, Guilherme Klein, professor do Departamento de Economia da Universidade de Leeds, no Reino Unido, destaca o petróleo, a carne bovina e o minério de ferro, itens que o Brasil já vende hoje para os dois principais parceiros.

No caso do minério de ferro, o professor ressalta que atualmente já existe excesso de oferta da commodity no mundo, o que tem empurrado os preços para baixo.

Assim, a avaliação é de que, ainda que o Brasil consiga vender parte da produção para outros países, caso as tarifas americanas entrem de fato em vigor, poderiam ter de fazê-lo a preços ainda mais baixos.

Klein não descarta, contudo, que a China pudesse absorver parte desse excedente "por uma questão estratégica, para se mostrar um parceiro comercial importante neste momento".

"É difícil separar o que vai ser geopolítica do que vai ser por interesse econômico", comenta o economista, emendando que a imprevisibilidade de Trump, que já voltou atrás em temas relacionados a tarifas diversas vezes, e a possível retaliação do Brasil tornam difícil o exercício de se tentar fazer previsões de cenários.

Em entrevista à Rede Record em 10 de julho, Lula afirmou que tentaria negociar com o governo Trump, mas que recorreria à lei de reciprocidade e taxaria os produtos americanos também em 50% caso não houvesse acordo.

Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil e sócio da consultoria BMJ, lembra que uma série de produtos acabaram sendo excluídos da tarifa de 10% que os EUA impuseram ao Brasil em abril. A lista completa foi divulgada em um anexo da ordem executiva assinada por Trump na ocasião.

Ainda não está claro se essas isenções serão mantidas, mas, caso o fossem, petróleo e derivados estariam excluídos da tarifa.

Na avaliação de Barral, caso não haja acordo e a alíquota se mantenha no patamar de 50%, as commodities tenderiam a sofrer menor impacto negativo.

"Elas acabam sendo exportadas para outros destinos, mesmo que seja por um preço menor", ele pontua.

Esse seria um caminho, por exemplo, para o café, ainda que o especialista ressalte que os Estados Unidos teriam dificuldade de encontrar um fornecedor do porte do Brasil, que responde por cerca de um terço da importação americana.

Esse dado também foi destacado pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), que afirmou à reportagem avaliar que os americanos teriam dificuldade para encontrar um substituto para o produto brasileiro, restando a eles pagar mais caro ou diminuir o consumo da bebida.

"Estamos na esperança de que o bom senso prevaleça, porque sabemos que quem vai ser onerado é o consumidor americano", disse o diretor-geral do Cecafé, Marcos Matos.

Setores potencialmente mais afetados

O setor de suco de laranja, por sua vez, desenhou um prognóstico bastante pessimista após o anúncio. A indústria tem nos EUA destino de 41,7% de todas as suas exportações.

Em uma nota, a Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR) afirmou que a tarifa — que se somaria a uma sobretaxa que já é cobrada do produto brasileiro por conta da proteção ao setor de suco de laranja americano —, criaria "uma condição insustentável para o setor, que não possui margem para absorver esse tipo de impacto".

"As consequências são graves: colheitas são interrompidas, o fluxo das fábricas é desorganizado, e o comércio é paralisado diante da incerteza. Trata-se de uma cadeia produtiva altamente interligada", prossegue o texto.

Ainda segundo a entidade, a Europa, que hoje é o principal mercado do suco brasileiro, com participação de 52% das exportações da última safra, provavelmente não tem capacidade "de absorver excedentes do mercado americano sem que haja grave deterioração de valor para todo o setor".

De forma geral, conforme os especialistas ouvidos pela reportagem, os produtos que teriam maior dificuldade para encontrar outros destinos seriam os industrializados.

Welber Barral destaca, por exemplo, as autopeças: "O Brasil exporta muitas autopeças, inclusive de tratores, equipamentos agrícolas. E tem muito comércio intrafirma nesse setor, é produto certificado, é um modelo específico… ainda não tem muito como transferir [esses itens] para outros mercados".

O economista Guilherme Klein chama atenção para o segmento de mais alta tecnologia, que tem nos EUA um importante mercado.

No caso da indústria de aviões, ele diz, o Brasil não apenas exporta para o mercado americano, como também compra peças e partes de empresas dos EUA. Em uma situação de guerra comercial, por exemplo, com imposição de tarifas por parte do Brasil, o custo desses produtos aumentaria.

"Isso poderia criar uma espiral que travaria um pouco investimentos nesses setores", pondera Klein.

Em relatório enviado a clientes em 10 de julho, a equipe de economistas que acompanha o setor de transporte e logística no Itaú BBA avaliava que a Embraer pode ser uma das empresas mais fortemente afetadas.

Segundo a análise, cerca de 60% da receita da fabricante vem da América do Norte. Desse total, 46% estariam potencialmente expostas aos efeitos das tarifas — redução da demanda ou diminuição das margens de lucro, por exemplo.

Outra companhia do setor que poderia sofrer impacto negativo seria a fabricante de eletroeletrônicos Weg, ainda que em escala menor. Os economistas estimam que cerca de 25% da receita da empresa venha da América do Norte e que aproximadamente 7% estaria exposta aos efeitos das tarifas.

'É quase uma sanção econômica'

Uma das razões que Trump tem apontado para as tarifas salgadas que tem anunciado, com idas e vindas, desde o início de seu segundo mandato é o déficit comercial dos Estados Unidos, que compra mais de seus parceiros comerciais do que vende para o restante do mundo.

Isso não acontece, entretanto, na relação com o Brasil. A balança comercial americana com o país é superavitária, com saldo líquido de US$ 283,8 milhões no ano passado e de US$ 1,67 bilhão entre janeiro e junho deste ano.

Nesse sentido, a tarifa de 50% foi lida por analistas como uma decisão motivada mais por fatores políticos, o que explicaria a menção ao processo criminal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe na carta enviada por Trump a Lula.

"Do ponto de vista econômico, não há muita lógica [na aplicação da tarifa]", diz Guilherme Klein, que é também pesquisador do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (MADE) da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA/USP).

"É quase uma sanção econômica. Uma situação que é, na verdade, uma tentativa de interferência no sistema político de outro país", ele completa.

Na mensagem enviada ao presidente brasileiro, Trump acusou o Brasil de promover perseguição judicial contra Bolsonaro e de cercear os "direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos", em referência às decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) nos últimos anos que retiraram do ar postagens e contas em redes sociais como o X com conteúdos considerados antidemocráticos.

Lula respondeu dizendo que o Brasil é um país soberano com instituições independentes e "que não aceitará ser tutelado por ninguém".

"O processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de estado é de competência apenas da Justiça Brasileira e, portanto, não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais", afirmou Lula em um comunicado.

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