Nova tecnologia chinesa usa enzima embutida em gel inteligente para facilitar entrada das células de defesa no interior dos tumores, melhorando a eficácia do tratamento. <<<===+===.=.=.= =---____-------- ----------____---------____::____ ____= =..= = =..= =..= = =____ ____::____-----------_ ___---------- ----------____---.=.=.=.= +====>>> Por Redação g1 Postado em 23 de Julho de 2.025 às 11h00m $.# Postagem - Nº 1.054#.$
Estudos clínicos com células Car-T trazem esperança para pacientes brasileiros com câncer
Uma equipe de cientistas chineses desenvolveu umanova versão da terapia celular CAR-Tcapaz de agir com mais eficiência contra tumores cancerígenos sólidos — um dos principais desafios atuais da oncologia.
A inovação combina as já conhecidas células CAR-T com um nanogel inteligente que carrega uma enzima chamada hialuronidase. O estudo foi publicado na revista "Nano Research".
As células CAR-T são uma forma avançada de imunoterapia, em que os próprios linfócitos T do paciente são modificados em laboratório para reconhecer e atacar células tumorais. Essa abordagem tem sido muito eficaz em alguns tipos de câncer no sangue, como leucemias, mas apresenta dificuldades para tratar tumores sólidos, como os de mama, pulmão ou pâncreas.
Barreira física dificulta entrada das células
O principal obstáculo contra tumores sólidos são as barreiras físicas formadas pela chamada matriz extracelular (MEC) — um tipo de “malha” que envolve os tumores e dificulta a penetração das células CAR-T.
Mesmo quando combinada com a enzima hialuronidase, que quebra essa
estrutura, a eficácia da terapia era limitada, já que a enzima não se
acumulava em quantidade suficiente dentro do tumor.
Com intuito de resolver esse problema, os pesquisadores liderados pelo
professor Xuesi Chen, do Instituto de Química Aplicada de Changchun,
criaram um sistema engenhoso: encapsular a hialuronidase dentro de nanogéis sensíveis ao ambiente do tumor.
Esses nanogéis foram então fixados na superfície das células CAR-T,
funcionando como uma “carga” que as células transportam diretamente até o
local da doença.
CAR-T Cell: Linfócitos retirados do paciente e modificados em
laboratório voltam à corrente sanguínea e combatem células cancerígenas;
— Foto: Arte/g1
Gel inteligente libera enzima no momento certo
O nanogel foi projetado parareagir a um tipo específico de molécula presente em grande quantidade dentro de tumores: as chamadas espécies reativas de oxigênio (ROS).
Ao detectar esse ambiente, o gel se rompe e libera a hialuronidase
exatamente onde ela é necessária — dentro do tumor, e não no restante do
corpo. Assim, a enzima quebra a barreira da matriz extracelular e
facilita a entrada das células CAR-T, que então conseguem atacar o tumor de maneira mais eficaz.
Em testes com modelos de câncer sólido em laboratório, a terapia combinada mostrou uma taxa de inibição tumoral de 83,2%
— resultado considerado expressivo pelos cientistas. “A degradação da
MEC mediada pela hialuronidase melhorou a infiltração das células CAR-T e
enfraqueceu o microambiente imunossupressor do tumor”, explicou Chen,
que também é membro da Academia Chinesa de Ciências.
Resultados promissores e novos caminhos
O estudo representa um passo importante no desenvolvimento de terapias
celulares contra tumores sólidos, um campo que ainda enfrenta muitos
desafios. A estratégia pode ser considerada uma forma de “arma secreta”
das células CAR-T, que chegam ao tumor equipadas com ferramentas extras
para superar suas defesas.
car-t — Foto: Hemocentro de Ribeirão Preto (USP)/arte g1
Como funciona hoje no Brasil?
O tratamento com CAR-T já está aprovado pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) para alguns tipos de leucemias, linfomas e
mieloma múltiplo.
Pacientes que recebem o tratamento com produtos comerciais — oferecidos
por três farmacêuticas — precisam recorrer à Justiça para que os planos
de saúde cubram o valor, que pode ultrapassar R$ 3 milhões.
Atualmente, as células são colhidas no Brasil, enviadas para fábricas
nos Estados Unidos ou Europa, modificadas e congeladas, e só então
retornam para aplicação — um processo que pode levar mais de 40 dias.
"Essa espera é inviável para muitos pacientes em estado avançado",
alerta o imunologista Martin Bonamino, chefe do Programa de Imunoterapia
Celular e Gênica do Instituto Nacional do Câncer (INCA).
Para baratear a produção, pesquisadores brasileiros tentam nacionalizar o processo, o que reduziria o custo da terapia em até 80%.
A
pesquisa teve participação de cientistas de diversas instituições
chinesas, incluindo a Universidade de Jilin e o Laboratório Principal de
Regeneração e Transplante de Órgãos. Os autores acreditam que o método
pode servir de base para novas terapias combinadas e para o
desenvolvimento de outras formas inteligentes de entrega de medicamentos
diretamente dentro de tumores.
O projeto hidrelétrico no rio Yarlung Zangbo é o mais ambicioso da China desde a construção da usina de Três Gargantas, no rio Yangtzé. <<<===+===.=.=.= =---____-------- ----------____---------____::____ ____= =..= = =..= =..= = =____ ____::____-----------_ ___---------- ----------____---.=.=.=.= +====>>> Por Redação g1— São Paulo 21/07/2025 15h25 Atualizado há 02 horas Postado em 23 de Julho de 2.025 às 10h25m $.# Postagem - Nº 1.053#.$
O elevador de navios da hidrelétrica Três Gargantas, no rio Yangtsé, na China — Foto: Paulo Zero/Globo
O primeiro-ministro da China, Li Qiang, anunciou o início das obras da
futura maior usina hidrelétrica do mundo, localizada na região leste do
Planalto Tibetano, com custo estimado em ao menos US$ 170 bilhões, segundo a agência oficial de notícias Xinhua.
O lançamento do projeto hidrelétrico, o mais ambicioso da China desde a
construção da usina de Três Gargantas no rio Yangtzé, foi interpretado
pelos mercados como um sinal de estímulo econômico, elevando os preços
das ações e os rendimentos dos títulos nesta segunda-feira (21).
Após a notícia, os contratos futuros de minério de ferro passaram a
subir. A cotação de referência para agosto na Bolsa de Cingapura subia
2,81%, chegando a US$ 103,60 por tonelada, com pico intradiário de US$
104,80 — o maior valor desde 27 de fevereiro.
Formado por cinco usinas hidrelétricas em cascata, o complexo terá
capacidade para gerar 300 bilhões de quilowatts-hora por ano — volume
equivalente ao consumo anual de eletricidade do Reino Unido em 2024.
A barragem será construída na parte inferior do rio Yarlung Zangbo,
onde um trecho despenca 2.000 metros ao longo de 50 quilômetros,
oferecendo um imenso potencial energético.
Índia e Bangladesh já expressaram preocupação com os possíveis impactos
do projeto sobre milhões de pessoas que vivem rio abaixo, enquanto
organizações não governamentais alertaram para os riscos ambientais em
uma das regiões mais ricas e diversas do platô.
Pequim afirmou que a hidrelétrica ajudará a atender a demanda
energética no Tibete e de outras regiões da China, sem causar grandes
impactos no abastecimento de água rio abaixo nem no meio ambiente. O
início das operações está previsto para a década de 2030.
O Índice CSI Construction & Engineering da China saltou até 4%,
atingindo a maior alta em sete meses. As ações da Power Construction
Corporation of China e do Arcplus Group PLC subiram até o limite diário
de 10%.
"Do ponto de vista do investidor, projetos hidrelétricos maduros
oferecem retornos comparáveis aos dos títulos de renda fixa", afirmou
Wang Zhuo, sócio da Shanghai Zhuozhu Investment Management. Ele também
alertou que a compra especulativa de ações do setor pode inflacionar os
valores de mercado.
O projeto impulsionará a demanda por materiais de construção, como
cimento e explosivos civis, disse a Huatai Securities em nota aos
clientes.
As ações da Hunan Wuxin Tunnel Intelligent Equipment Co, listada em
Pequim, que vende equipamentos para construção de túneis, subiram 30%. O
mesmo aconteceu com as ações da Geokang Technologies Co Ltd, que
fabrica terminais de monitoramento inteligente.
A fabricante de cimento Xizang Tianlu Co Ltd e a Tibet GaoZheng
Explosive Co, produtora de materiais explosivos civis, saltaram ao
máximo de 10%.
PIB da China sobre 5,2% no 2º trimestre
Impacto mais amplo
O primeiro-ministro chinês classificou a hidrelétrica como um “projeto
do século” e afirmou que uma atenção especial “deve ser dada à
conservação ecológica para evitar danos ambientais”, segundo declarou a
agência Xinhua no sábado.
Os rendimentos dos títulos do governo subiram em todos os setores nesta
segunda-feira, com os futuros do tesouro de 30 anos mais negociados
caindo para mínimos de cinco semanas, já que os investidores
interpretaram as notícias como parte do estímulo econômico da China.
O projeto, de responsabilidade do recém-formado grupo estatal China
Yajiang, marca um grande impulso de investimento público para ajudar a
alavancar o crescimento econômico. Os atuais estímulos vinham mostrando
sinais de fraqueza.
"Considerando
10 anos de construção, o aumento do investimento/PIB poderia chegar a
120 bilhões de iuanes (US$ 16,7 bilhões) em um único ano", disse o Citi
em uma nota. "Os benefícios econômicos reais podem ir além disso."
A China não forneceu uma estimativa do número de empregos que o projeto poderia criar.
A construção das Três Gargantas, que levou quase duas décadas para ser
concluída, gerou quase um milhão de empregos, segundo a mídia estatal,
embora tenha deslocado pelo menos um número semelhante de pessoas.
Para Henrique Meirelles, governo brasileiro deve negociar revisão da taxa de 50% anunciada por Donald Trump — e, se for preciso, abrir mão de algumas das tarifas que tem em vigor contra os EUA. <<<===+===.=.=.= =---____-------- ----------____---------____::____ ____= =..= = =..= =..= = =____ ____::____-----------_ ___---------- ----------____---.=.=.=.= +====>>> Por Julia Braun 18/07/2025 07h25 Atualizado há 2 dias Postado em 20 de Julho de 2.025 às 11h00m $.# Postagem - Nº 1.052#.$
Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, concede entrevista ao g1 — Foto: Fábio Tito/g1
Ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles
vê a inclusão do PIX na lista de pontos que serão investigados pelo
governo dos Estados Unidos como uma resposta à eficiência do mecanismo
de pagamento brasileiro.
Em entrevista à BBC News Brasil, ele classifica o sistema como "rápido e
eficiente" e "melhor do que todo o sistema de pagamento" americano.
Na terça-feira (15/07), o Executivo do presidente Donald Trump anunciou
a abertura de uma investigação comercial contra o Brasil, após o
anúncio da imposição de uma tarifa de 50% sobre qualquer produto
brasileiro exportado aos EUA.
Entre as acusações feitas, que deverão ser apuradas ao longo do
processo, estão eventuais irregularidades na adoção do PIX, desenvolvido
pelo Banco Central durante o governo de Michel Temer (MDB) e lançado em
novembro de 2020.
Mas segundo Meirelles, que serviu como presidente do Banco Central de
2003 a 2011 (primeiro e segundo governos Lula), a competição oferecida
pela ferramenta brasileira para empresas como Google, Apple e Meta está
no centro da motivação de Donald Trump para incluí-la em sua lista de
alvos.
"O PIX é mais eficiente, não há dúvidas", diz o ex-ministro e
ex-secretário da Fazenda de São Paulo. "Trump fala que isso está
prejudicando o sistema de pagamento das empresas americanas, que são
basicamente oferecidos pelas Big Techs."
Ainda segundoHenrique Meirelles,
as alegações feitas pelos Estados Unidos de que o Brasil age de maneira
desleal ao beneficiar alguns países, como México e Índia, com tarifas
mais baixas, enquanto prejudica os Estados Unidos, não fazem sentido.
"O
Brasil faz taxações generalizadas para proteger determinados mercados,
mas eu não vejo benefício específico para alguns países."
Durante a conversa com a BBC News Brasil, o ex-ministro da Fazenda do
governo Temer também defendeu que o governo brasileiro negocie a revisão
da tarifa de 50% anunciada por Donald Trump - e, se for preciso, abra
mão de algumas das taxas que tem em vigor atualmente contra os EUA.
"[Donald Trump] é um negociador que toma riscos fortes, mesmo na vida
pessoal. (...) Eu acho que ele inclusive gosta de negociar - e aí tem
que negociar sim. Mas o governo tem que estar disposto a ceder algumas
tarifas que o Brasil aplica hoje", afirma.
Por outro lado, Meirelles diz que os pontos levantados pelo governo
americano sobre o processo judicial contra o ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) e as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) em
relação à responsabilização das empresas de mídia social por publicações
ilegais de seus usuários são "inegociáveis".
"Decisões judiciais não são negociáveis. O governo brasileiro não vai negociar em nome do Supremo, não faz sentido isso."
Mas o ex-ministro também não descarta totalmente o caminho da
retaliação com a elevação de algumas tarifas brasileiras, caso as
negociações não cheguem a uma conclusão.
"Mas isso precisa ser analisado com cuidado", recomenda. "Pode ser em um ou outro caso, mas não uma coisa generalizada."
Meirelles ainda defende a proteção da economia brasileira por meio da
busca por novos mercados, em especial a ampliação dos laços econômicos
com a China.
"O Brasil não tem nenhum confronto com a China, né? Certamente, a
questão com o governo do Trump é evidente e ele próprio deixa muito
claro, né? Mas de resto não há grandes problemas de relacionamento",
diz.
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:
BBC
News Brasil - Como o senhor avalia o anúncio dessas tarifas? Quais
acredita que são as motivações do governo Donald Trump nesse momento?
Henrique Meirelles -
Não há dúvida de que é um assunto muito polêmico e que vai ter algum
efeito na economia brasileira, na medida em que as exportações para os
Estados Unidos tendem a diminuir. Por outro lado, o efeito é menos
importante do que para alguns outros países. Existe uma companhia que
será direta e fortemente afetada que é a fábrica de aviões exportados
para os Estados Unidos. Mas o restante das exportações são muito
concentradas em commodities em geral, que é algo que pode se vender para
qualquer outro país, particularmente para os países asiáticos que estão
crescendo muito.
Em termos de motivação do governo Trump, elas ficam claras na carta
dele. Ele acredita que decisões do Supremo Tribunal Federal sobre a
divulgação de determinadas postagens na mídia social prejudicam as
empresas americanas, e que o Brasil está, entre aspas, perseguindo as
empresas americanas de comunicação.
Evidentemente que isso não faz sentido, na medida em que o tribunal
toma decisões, baseado nas suas interpretações da lei brasileira e é um
órgão independente, que não faz parte do Executivo.
BBC News Brasil - O senhor diria, então, que as motivações são muito mais políticas ou de interesses pessoais do que econômicas?
Meirelles -
Divide um pouco. Ele tem a motivação política, não há dúvida, que ele
deixa clara na carta. Por outro lado, ele acha que as empresas de mídia
social americanas no Brasil estão sendo prejudicadas. Isso é uma
motivação econômica.
BBC
News Brasil - Para além das justificativas apresentadas pelo presidente
Donald Trump e seu governo, o senhor vê alguma relação entre o
protagonismo do Brasil nos Brics e as tarifas?
Meirelles -Não
vejo como o grande motivador, mas existe sim alguma influência. O
[presidente] Donald Trump está certamente irritado com a posição dos
Brics, que ele vê como uma posição contrária aos Estados Unidos e a ele.
Mas somente isso não justificaria uma tarifa de 50%, porque ele não
aplicou [essa mesma taxa] a outros membros do Brics.
BBC
News Brasil - O senhor tem interlocutores fora dos EUA e do Brasil com
quem conversou nos últimos dias sobre essas tarifas? Como eles estão
vendo a taxação?
Meirelles - Em
geral, a política de tarifas é vista negativamente pelos analistas do
mundo todo, porque evidentemente tende a prejudicar a economia global.
Não está prejudicando necessariamente ainda. O FMI fez uma projeção de
que a economia global, que estava projetada para crescer 3,3%, vai
expandir apenas 2,8%, mas isso não está totalmente transparente e
solidificado ainda. Quer dizer, é uma previsão, mas a economia continua
resiliente e surpreendendo muitos analistas.
BBC News Brasil - O Brasil deveria retaliar as tarifas?
Meirelles -O
Brasil já aplica tarifas relativamente elevadas, em geral. Mas o país
tem que, de fato, tomar medidas de defesa das suas empresas. Mas isso
precisa ser analisado com cuidado, porque o problema da tarifa é que o
país que aplica tem de um lado um ganho bloqueando um pouco os
importados daquele setor específico, mas, por outro lado, sofre o efeito
inflacionário.
É inclusive um pouco irônico, porque na medida em que as exportações
brasileiras para os Estados Unidos diminuem um pouco, pode haver uma
queda de demanda global para aqueles produtos e isso pode gerar um
componente deflacionário. Ou seja, isso pode até ajudar o Banco Central a
combater a inflação.
BBC News Brasil - Então retaliar com um aumento das tarifas não é o melhor caminho nesse momento?
Meirelles - Pode ser em um ou outro caso, mas não uma coisa generalizada.
BBC News Brasil - E no caso de uma tentativa de negociação, qual deve ser o argumento do governo brasileiro?
Meirelles -Eu
acho muito difícil essa negociação, porque ele [Donald Trump] está
basicamente alegando como motivação decisões do Supremo Tribunal
Federal. E decisões judiciais não são negociáveis.
O governo brasileiro não vai negociar em nome do Supremo, não faz sentido isso.
BBC
News Brasil - Mas há quem teorize que Donald Trump usa a estratégia da
imprevisibilidade para conseguir seus objetivos políticos e econômicos
com uma negociação posterior. Se for essa a estratégia usada nesse caso,
como deve ser a negociação?
Meirelles -Ele
é um negociador que toma riscos fortes, mesmo na vida pessoal. Muitas
vezes perde, muitas vezes ganha – agora mesmo as empresas da família
dele estão tendo lucros muito grandes, pelas tomadas de posições do
mercado. Eu acho que ele inclusive gosta de negociar - e aí tem que
negociar sim. Mas aí o governo tem que estar disposto a ceder algumas
tarifas que o Brasil aplica hoje.
Por outro lado, tem algo aí que é inegociável, que é justamente negociar em nome do Supremo.
BBC News Brasil - Como o senhor avalia a estratégia do governo brasileiro até agora?
Meirelles -[O
governo] está bem, né? No sentido de que a maior preocupação do
governo, e do presidente, no momento, é a eleição de 2026. E as
pesquisas têm mostrado que essa crise beneficia a candidatura do Lula e
prejudica os candidatos da oposição, da direita. Dentro desse ponto de
vista está ok, né? Não está [ok] para a oposição, certamente, que se
prejudica, principalmente o governador de São Paulo, mas também o
Eduardo Bolsonaro.
BBC News Brasil - Para qual mercados o Brasil deveria se voltar para substituir o peso dos EUA?
Meirelles -Pode-se
trabalhar um pouco mais os mercados asiáticos e a própria China, que
apesar de ser um grande exportador, é também um grande importador,
principalmente de grãos.
E também os mercados europeus. Existem algumas dificuldades para o
tratado de livre comércio com a Europa, principalmente em função da
resistência de representantes da agricultura francesa, mas esses são os
principais mercados a serem trabalhados.
BBC News Brasil - Nesse momento a China é um parceiro mais confiável e previsível que os EUA?
Meirelles -O
Brasil não tem nenhum confronto com a China, né? Certamente, a questão
com o governo do Trump é evidente e ele próprio deixa muito claro, né?
Mas de resto não há grandes problemas de relacionamento. Acho que o
Brasil tem que trabalhar, sim, esses outros mercados.
BBC
News Brasil - Na investigação comercial anunciada pelos EUA contra o
Brasil, o Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos cita o
que eles definem como 'práticas desleais' na adoção do PIX no Brasil.
Na sua visão, por que o PIX virou alvo?
Meirelles -Porque
o PIX favorece muito as transações financeiras e é muito eficiente. A
justificativa do Trump é que isso prejudica companhias americanas que
têm sistemas de pagamento. Ele vê o PIX como uma competição oficial do
governo brasileiro com o sistema de pagamento das empresas americanas.
É tão simples quanto isso: é uma motivação pequena que se torna muito relevante porque são medidas do governo americano.
BBC
News Brasil - Analistas dizem que as Big Techs estão por trás desse
ataque de Trump ao PIX. Isso porque o PIX tiraria mercado do Apple Pay,
Google Pay e WhatsApp Payments…
Meirelles -Não
há dúvida de que o Trump fala que isso está prejudicando o sistema de
pagamento das empresas americanas, que são basicamente oferecidos pelas
Big Techs.
BBC
News Brasil - As alegações sobre práticas desleais em relação ao PIX,
em comparação com outros serviços de pagamento, fazem sentido na sua
visão?
Meirelles -É
uma questão da definição do que seria desleal. O PIX é mais eficiente,
não há dúvidas, e isso beneficia a economia brasileira. Por exemplo, no
ano passado, mais de 100 milhões de brasileiros usaram PIX. É um sistema
eficiente e rápido, melhor do que todo o sistema de pagamento nos
Estados Unidos.
Agora, se o fato de ser mais eficiente do que o sistema de pagamento de
algumas empresas americanas torna [o uso do PIX] desleal, é uma questão
conceitual, puramente subjetiva.
BBC
News Brasil - Os EUA também alegaram que o Brasil beneficia alguns
países, como México e Índia, com tarifas mais baixas, enquanto prejudica
os Estados Unidos. Isso faz sentido?
Meirelles -O
Brasil faz taxações generalizadas para proteger determinados mercados,
mas eu não vejo o Brasil beneficiando especificamente alguns países.
Existem alguns tratados [de redução de tarifas], mas que evidentemente
são normais.
BBC
News Brasil - O ministro Alexandre de Moraes restaurou a alta do IOF
instituída pelo governo. Como o senhor avalia os impactos dessa medida
para a economia brasileira?
Meirelles -A
questão do IOF é muito controversa, porque o governo certamente está
precisando aumentar a arrecadação e está usando o IOF para isso. Agora,
por definição, o IOF é uma medida regulatória, que não é normalmente
usada no Brasil e em outros países como um imposto arrecadatório – que é
o que está acontecendo. Esse é o ponto principal.
Aquela questão de tirar o IOF de algumas transações importantes, eu
acho que melhora um pouco a questão e viabiliza um pouco mais.
BBC News Brasil -O Moraes ter decidido sobre esse tema, quando já tinha sido derrubado, desmoraliza o Congresso, como dizem membros da oposição?
Meirelles -Não
acho que desmoraliza o Congresso necessariamente. Existe uma
controvérsia entre o Congresso e o Executivo, e o Judiciário se
pronunciou exatamente sobre o assunto na medida em que ele foi acionado
por uma das partes.
BBC News Brasil -Como o senhor avalia o projeto de reforma do Imposto de Renda (IR) e a proposta de taxação para os "super-ricos"?
Meirelles -Isso
é uma coisa que tem que ser olhada com um pouco de cuidado. A isenção
àqueles de menor renda, [está] tudo bem. O problema são esses aumentos
generalizados para pessoas de renda mais alta ou para empresas. Isso aí
pode, digamos, prejudicar um pouco da competitividade com o país sendo
visto pelos investidores e etc como de taxação ainda mais elevada.
O Brasil é dos países que mais tributam no mundo, principalmente entre
os emergentes. A nossa carga tributária é muito elevada. Então, aumentar
ainda mais, tem algumas desvantagens importantes nesse aspecto de
competitividade.
BBC
News Brasil - Mas existem outros países, inclusive países europeus, que
aplicam impostos para super ricos, com alíquota mais elevada, e que são
competitivos, não?
Meirelles -São
países já ricos, de renda muito alta, que taxam muito e oferecem muitas
vantagens para os seus habitantes. Mas não são grandes competidores no
comércio internacional. Os maiores competidores no comércio
internacional hoje, além dos Estados Unidos, são a China, o Vietnã, etc.
Se pegarmos aqueles países, principalmente do norte da Europa, por
exemplo, eles não são grandes competidores no mercado internacional de
exportação ou de outras áreas, porque são países que taxam bastante.
Mas, por outro lado, oferecem um padrão de atendimento à população muito
elevado.
BBC News Brasil - O senhor poderia ser afetado pessoalmente por essa proposta?
Meirelles -Não
sei, acho que pode ser. Eu não cheguei a examinar sob esse ponto de
vista no momento. Mas não é algo que está me preocupando.
BBC News Brasil - A sua opinião não tem a ver com esse fato, então?